Filósofo foi o entrevistado do programa ‘Um olhar sobre o Mundo’. Olavo de Carvalho conversou com Moisés Rabinovici. Em pauta, temas como a eleição de Jair Bolsonaro e a atuação da imprensa brasileira
Em sua primeira entrevista à televisão brasileira após as eleições presidenciais, o filósofo, escritor e jornalista Olavo de Carvalho conversou com Moisés Rabinovici no ‘Um olhar sobre o Mundo’. O programa foi ao ar na noite de segunda-feira, 3, na TV Brasil. Considerado o mentor intelectual do novo governo e de grande parte do movimento direitista que levou Jair Bolsonaro ao poder, Olavo de Carvalho já indicou dois ministros para o presidente eleito. Na entrevista, ele disse que não quis ocupar nenhum ministério, mas que aceitaria ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos, onde já reside. O trabalho da imprensa também foi discutido.
Olavo de Carvalho afirmou que essa seria uma missão que poderia assumir para contribuir com o Brasil porque é nos Estados Unidos que estão os recursos que o país precisa para se desenvolver. “O Bolsonaro, em discursos, duas vezes disse que me ofereceu dois ministérios, o da Educação ou da Cultura. Eu informei que não aceitaria nenhum. Então para não dizer que a minha má vontade é total eu disse que, em hipótese, eu aceitaria, a de embaixador nos Estados Unidos”, comentou.
“Aceitaria por um motivo muito simples. A coisa que o Brasil mais precisa é dinheiro. E onde está o dinheiro? Está aqui. Então eu posso fazer algo útil para o Brasil. Vou lá e pego os US$ 267 bilhões que o Trump diz que tem para investir no Brasil. Mas isso não quer dizer que eu queira ser embaixador, nunca quis. Não quero mesmo. Acho um horror essa perspectiva. Seria um sacrifício. Se fosse, quero que seja temporário”, assegurou o filósofo.
Direita no Brasil
Em contrapartida a essa aproximação com os Estados Unidos, ele recomenda que o Brasil deve ser duro com a China. “O que você acha melhor se nós estamos numa posição de dependência? O melhor é depender dos Estados Unidos ou depender da China? A China é um país que tem uma prosperidade enorme em cinco cidades. O resto é uma miséria sem fim. É um país que não sustenta nem a si mesmo. Tudo que tem, ele gasta em armas. É o país que tem o maior exército de terra do mundo. Em segundo lugar, a China é obviamente um país imperialista. Vai ver a situação do Tibet. Você prefere ser vizinho dos Estados Unidos ou da China?”.
Segundo Olavo de Carvalho, se concretizada uma ameaça da China de retirar os negócios do Brasil, isso acarretaria um prejuízo temporário, que seria depois compensado pelo dinheiro norte-americano. “Mas não me parece que a ameaça deles seja desse tipo. Essa ameaça me parece francamente belicosa. É uma ameaça para saber com quem nós estamos lidando”, argumentou Carvalho. Segundo ele, a China pratica uma economia fascista com um Estado controlador aliado a grandes grupos econômicos.
“Num país de maioria conservadora, você não tinha um partido conservador, um jornal diário conservador, um canal de TV conservador”
Ele também falou sobre filosofia, sobre o crescimento da direita no Brasil e no mundo e comentou o resultado das últimas eleições presidenciais com vitória de Bolsonaro. “Vinte anos atrás eu disse: o primeiro candidato que se apresentar com um programa conservador vencerá. Todo mundo achou que era loucura. Está aí: venceu”, afirmou.
Sobre a perspectiva de crescimento da direita em vários países do mundo ele não quis fazer previsões, mas argumentou que a política é sempre pendular. “Aqui nos Estados Unidos você tem democratas e republicanos. Na Inglaterra, você tem conservadores e trabalhistas. E assim por diante. Às vezes a direita está no poder, às vezes a esquerda. Esse negócio é cíclico. Ninguém pode contar com a hipótese de estar no poder eternamente. Agora, no Brasil, só havia a esquerda. Isso durante 50, 60 anos. Todas as pesquisas de opinião mostram que o povo brasileiro é acentuadamente conservador. No entanto, num país de maioria conservadora, você não tinha um partido conservador, um jornal diário conservador, um canal de TV conservador, uma universidade conservadora, nada. Quer dizer, a maioria não tinha canais de expressão. A maioria estava excluída da política”.