Comunique-se publica artigo do professor, escritor e jornalista Jorge Tarquini sobre o papel da imprensa em tempos de pandemia
Cansei de ver gente falando que a “mídia” só sabe falar das mortes por Covid-19 – sem falar dos que a ela sobrevivem.
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Vou usar o raciocínio dessas pessoas para fazer algumas comparações:
- São 40 milhões de empregados com carteira assinada no Brasil. O que são 14,3 milhões de desempregados?
- São 74 milhões de brasileiros habilitados a dirigir – o que são 32 mil mortos no trânsito?
- São 50 mil mortes violentas por ano no Brasil – o que é isso perto de 211 milhões de habitantes?
- São 66.123 mulheres estupradas por ano no Brasil – o que é isso, dentro de um universo de 100,5 milhões de mulheres?
- São 182.031 carros roubados por ano – o que significa diante de uma frota de 65,8 milhões de carros da frota nacional?
Usando o seu raciocínio, nada disso deveria ser noticiado?
Você pensaria assim mesmo que:
- Fosse o seu emprego que desaparecesse?
- Fosse você ou um dos seus a morrer em um acidente de trânsito?
- Fosse você ou um dos seus a experimentar uma morte violenta?
- Uma mulher da sua família ou conhecida fosse vítima de estupro?
- Seu carro fosse roubado?
Como esperar que entendam a sua dor quando você se recusa a entender a do outro? São pessoas por trás dessas estatísticas…
“Para viver num conto de fadas, fique na sua bolha”
O jornalismo é feito para alertar, avisar, denunciar, cobrar, acompanhar. Para viver num conto de fadas, fique na sua bolha (mesmo quando você entrar para as estatísticas). Caso fique indignado, sempre haverá a vigilância da imprensa (no mundo livre, claro).
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Por Jorge Tarquini, jornalista. Professor de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero e ESPM. Sócio-diretor da empresa Scribas Produção de Conteúdo. Escritor, autor, entre outros livros, de O Doce Veneno do Escorpião.
Conteúdo publicado originalmente no perfil do autor no Facebook.