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“Névoa de guerra”: jornalismo é essencial no combate à desinformação das redes

“Névoa de guerra” jornalismo é essencial no combate à desinformação
(Imagem: reprodução/ objETHOS/ Facebook André Liohn).

Vulnerabilidade das redes sociais confunde e desinforma. O desafio do jornalismo é combater mentiras num cenário bastante complexo

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Há 21 dias, a Rússia declarou guerra à Ucrânia. Nos feeds das mídias sociais, assim como em vários outros momentos históricos, explodem fotos, vídeos e informações divergentes, verdadeiras e falsas. Quem não busca esclarecimento em sites que produzem jornalismo sério, e consome apenas conteúdo dessas plataformas, corre o risco de tomar como verdade tudo que visualiza. Tanto Ucrânia quanto Rússia têm usado a névoa de guerra como estratégia, compartilhando informações desencontradas sobre número de mortos ou imagens de destruição.

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Em entrevista ao Uol, Tasso Franchi, professor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), disse que a dificuldade em achar informações precisas é uma estratégia de guerra utilizada há muito tempo. “Você cria uma névoa, divulga informações erradas para diluir a certeza do inimigo e a capacidade dele de tomada de decisões”, falou ao site.

A estratégia de confundir e omitir a verdade pode atender aos objetivos militares, mas desinforma e ilude, principalmente a população. Os ucranianos são diretamente afetados ao procurar informações seguras, seja para buscar ajuda, abrigo ou sair das zonas de conflito, tendo em vista que milhares ainda tentam deixar o país, após tentativas frustradas de cessar-fogo.

Por outro lado, na Rússia, era por meio das redes sociais e alguns veículos independentes que a população acessava narrativas diferentes daquelas contadas pelo Governo Russo, que controla os meios de comunicação do país. O presidente Vladimir Putin, inclusive, proibiu que o termo guerra seja utilizado no país, bem como vetou o acesso dos russos ao Facebook e Twitter.

O papel do jornalismo

O jornalismo disputa seu espaço com gigantes da tecnologia, que moderam o que pode ou não ser visto, elogiado ou replicado na internet. Mas, assim como nas eleições de 2018, no contexto da pandemia e de diversas outras guerras, essas empresas, que dizem defender a democracia e condenar autoritarismos, não deixam completamente claro o que vêm fazendo para driblar as notícias falsas, que se espalham numa velocidade gigantesca.

Muitos profissionais da comunicação, por sua vez, vêm cumprindo o seu papel de forma ética e corajosa: o de dar luz a milhares de histórias cotidianas de pessoas que, repentinamente, precisaram deixar suas casas e vidas para se tornarem refugiados.

No Brasil, muitos dos materiais e informações disponíveis são replicados por agências internacionais, dada a distância, o investimento e também os riscos do envio de profissionais para os conflitos. Mas há jornalistas brasileiros espalhados em cidades fronteiriças com a Ucrânia, e outros dentro do país, que passaram ou ainda permanecem na região elaborando reportagens profissionais e humanas. Pela CNN Brasil: Mathias Brotero; Record: Leandro Stoliar e Roberto Cabrini; Band: Yan Boechat; SBT: Sérgio Utsch; Estadão: Eduardo Gayer; Rede Globo: Gabriel Chaim, Rodrigo Carvalho e Marcelo Courrege.

André Liohn, fotojornalista de guerra, está em Lviv e tem contribuído para a Folha de S. Paulo, além de produzir imagens fortes, sobretudo, tristes. Liohn, que diariamente usa as redes também para se comunicar, desabafou que reportar da Ucrânia dá a sensação de que o trabalho jornalístico não é necessário. “Ambos os lados usam as mídias sociais para informar, doutrinar, difundir, assustar, manipular aqueles que lhe interessam sem precisarem se submeter ao crivo jornalístico”, twittou no dia 3 de março.

Não só Liohn, mas os demais repórteres brasileiros, trazem histórias de cotidianos afetados drasticamente, bem como da onda de solidariedade que se formou em toda a Europa e mundo para com os mais de 1 milhão de refugiados, segundo estimativa da ONU no domingo, 6 de março.

Para além da complexidade histórica e geopolítica envolvida no conflito, é importante salientar que especialistas, colunistas e comentaristas, contribuem com os debates ao explicar motivações sobre o acontecimento. O que a imprensa não pode fazer, definitivamente, é justificar a guerra. O jornalismo deve fazer análises, não torcida. Conflitos humanos não podem ser simplificados a ponto de que a população chegue a conclusão de que existe um vilão ou um mocinho. Em uma guerra todos perdem, e o mais afetado é o povo. Uma cobertura equilibrada e que condena qualquer tipo de violência é o que a opinião pública precisa agora.

“Simplificar é desserviço”, diz Jamil Chade

Para o jornalista Jamil Chade, que já cobriu diversos conflitos, este é o primeiro confronto 100% online. Apesar de guerras estarem acontecendo em outras partes do mundo e de, injustamente, não receberem a mesma atenção da mídia, Kiev, a capital, e as demais cidades da Ucrânia, estão absolutamente conectadas. “Talvez a gente viva uma nova etapa da informação sobre a guerra, mas também de como isso é digerido pelo mundo. Sabemos que isso também tem impacto na forma como se dá o desenvolvimento da guerra. Desinformação e conflitos andam de mãos dadas por milênios, são exemplos de como a desinformação faz parte desses processos, e forma opinião rapidamente”, pontuou.

O desafio dos jornalistas, de acordo com ele, é explicar a história, num período extremamente complexo. “Por ora, não existe uma resposta óbvia. Quando tentamos no Twitter ou nas redes sociais simplificar, a gente está fazendo um desserviço para a compreensão de todos os conflitos. Eles são longos e complexos. Essa é uma das outras lições desta guerra, vamos ter de lidar com a complexidade, não podemos esquecer dela. O mundo não é resolvível em alguns caracteres nas redes sociais”.

*Por Tânia Giusti, mestre em Jornalismo pelo PPGJOR/UFSC e pesquisadora do objETHOS

** Texto originalmente publicado no site do objETHOS

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