Nunca tive tanto medo de ficar perto das pessoas, principalmente das que mais amo, como tenho tido neste tempo de coronavírus.
Não estou falando de meu pai, que sempre viveu longe de mim, nem de minha mulher, que vive tão ocupada com os problemas da vida de casada que já perdeu a paixão que tinha por mim quando não morávamos sob o mesmo teto, mas de meus filhos, que, toda vez que me vêm pedir a bênção ou me abraçar, me deixam com medo de contaminá-los, porque, por mais que, morrendo de medo, eu lave as mãos a todo momento, desinfeto-as com álcool em gel e troque de roupas e de calçados (quem diria que um dia eu iria adotar esse velho costume japonês) toda vez que coloco os pés fora de casa, o que tenho feito só em casos de extrema necessidade, não me sinto totalmente protegido do coronavírus.
Desde a segunda semana de março, quando minha mulher e meus filhos começaram a ficar isolados em casa, toda vez que entro em um ambiente difícil de não lotar de gente, como ônibus e mercados, os lugares que mais frequento, quero ficar longe das pessoas, principalmente quando elas espirram, tanto quanto elas devem querer ficar longe de mim.
Quando vejo minha mulher desinfetando a porta de nossa casa, vêm-me à mente os capítulos (11 a 13) de “Êxodo” em que, para que os primogênitos não fossem mortos quando o Anjo Exterminador passasse pelo Egito, Javé manda os israelitas marcar, com sangue de cordeiro, as portas de suas casas.
Se eu já não tivesse feito de minha casa meu local de trabalho muito antes de ter ouvido falar do coronavírus, diria que esses dias de isolamento estão sendo uma boa oportunidade de eu ficar mais perto das pessoas que mais amo.
Deus queira que não seja a última.
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