Articulista-parceiro do Portal Comunique-se, o revisor de textos Edson de Oliveira apresenta o poema que não foi escrito pelo argentino Jorge Luis Borges. William Bonner tem relação com essa história. Entenda
Era o último dia do ano quando William Bonner encerrou o ‘Jornal da Globo’, que ele apresentou de 1989 a 1993, com um poema atribuído a Jorge Luis Borges que dizia:
“Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade,
bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico, correria mais riscos, viajaria mais,
contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas,
nadaria em mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveram sensata e produtivamente
cada minuto da sua vida; claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feito a vida, só de momentos.
Não percam o agora.
Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e
continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, como sabem, tenho 85 anos
e sei que estou morrendo.”
Assim que o novo ano começou, fui às livrarias ver se achava o livro em que se encontrava o texto creditado ao escritor argentino. Folheei livro por livro, mas não achei o que estava procurando. Nem poderia, porque, conforme acabei lendo e ouvindo mais tarde, “Instantes”, ou, no original, “If I Had My Life to Live over…” (“Se Eu Pudesse Viver novamente Minha Vida…”), era de uma escritora estadunidense chamada Nadine Stair (ou seria Strain?), publicado em uma antologia da Bantam Books.
“Assim que o novo ano começou, fui às livrarias ver se achava o livro em que se encontrava o texto creditado ao escritor argentino”
Na verdade, esta é a versão mais conhecida, porque, ao entrar no mundo virtual para me informar um pouco mais sobre o poema que Borges não escreveu, fiquei sabendo que a primeira, “I’d Pick More Daisies” (“Eu Escolheria Mais Margaridas”), é do escritor e cartunista também estadunidense Don Herold, publicada na revista “College Humor” por volta de 1935 e na “Seleções” em 1953.
Leia mais:
- Aqueles livrões de que muitos falam, mas poucos leram
- O dia em que conhecemos J. R. Duran
- Que tal ler cartas secretas de personagens da história?
- Sexo, drogas, máfia e muita comida boa!
- Livro faz jornalista brincar de ser astronauta