Heródoto Barbeiro escreve sobre um ministro da Casa Civil. Leia a seguir
Ele é o principal ministro do governo. Tem em suas mãos o poder conferido pela posse da chave Casa Civil, um superministério. Vez por outra é rotulado pelos jornalistas de primeiro-ministro tal o poder que acumula. Não é apenas o gerentão, o faz tudo, o que mete a mão no esgoto para livrar o presidente da República de tão repugnante atividade. É muito mais. O seu ego é insuportável e quando surge no Congresso há um verdadeiro beija mão, com deputados e senadores de todos os matizes à sua volta.
Todos têm um pedido a ser atendido, um cargo na estatal. Ou, na burocracia, um empréstimo encalacrado nos bancos oficiais. Ou, ainda, uma bolsa para um parente que aguarda ansiosamente para viajar para o exterior. Se for submisso e lambe botas suficiente, vai conseguir. O chefe da Casa Civil não deixa ninguém na chuva. Nem fora do caderninho de anotações do ministério para ser cobrado na hora exata. Os obedientes parlamentares entram na fila da votação dos projetos do governo como verdadeiros cordeiros. Qual presidente pode prescindir de um auxiliar deste naipe?
Ainda assim, vez por outra, os jornalistas que cobrem Brasília se arriscam a dizer que o poderoso ministro pode cair a qualquer momento. Um movimento político do presidente, uma denúncia mal apurada, ou mesmo um sumiço do ministro ou férias no exterior é suficiente para armar uma tempestade politica real ou imaginária. Mas conjecturar sobre a permanência do chefe da Casa Civil no cargo mexe com as placas tectônicas da política no planalto central.
Os auto-proclamados sucessores saem das tocas, e tal qual os ratos do banhado, com seus focinhos sensíveis, escultam a situação em busca do caminho do poder. Para o presidente, o chefe da Casa Civil serve de anteparo da fila de pedintes de toda ordem e a coordenação política do governo com o Congresso. Por isso, precisa ser ágil, demonstrar poder e não exitar em presentear os fiéis e punir os que teimam em fazer oposição. Por isso, não pode se submeter ao noticiário que a pasta está sendo esvaziada, que perdeu secretarias para outros ministérios. Ou pior: perdeu a confiança do presidente da República. Uma vez perdida, dificilmente recupera.
De uma só vez os opositores levantam suspeitas de corrupção contra o chefe da Casa Civil e o presidente da República. Em tempo recorde, o ministro é acusado, perseguido, julgado e condenado. Não é possível que ele não soubesse do desvio do dinheiro público, uma vez que antes de fazer parte do Executivo, atuou no Congresso, foco, mais uma vez, de investigação por corrupção. O abalo é imenso, uma vez que o governo anterior tinha deixado o palácio do Planalto coberto de lama. Depois da roubalheira tudo é possível.
O ministro, para preservar o presidente, pediu demissão do cargo. E o presidente aceitou. Henrique Hargreaves, ex- funcionário do Senado se afasta espontaneamente do cargo e é submetido às investigações que apuram o assalto aos cofres públicos por uma quadrilha conhecida como “Os anões do orçamento”. Entre os flagrados com a mão no dinheiro do contribuinte, um desconhecido deputado da Bahia, Geddel Vieira Lima. Três meses depois , sem comprovação das denúncias contra ele, Henrique Hargreaves volta para o cargo e lá permanece até o final do governo de Itamar Franco. Um exemplo raro na história política do Brasil. O costume é não pedir demissão nem de síndico de prédio.
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