A crise mundial da pandemia do novo coronavírus está espalhando uma onda rara de colaboração entre veículos concorrentes na América Latina
Por Júlio Lubianco. Texto publicado originalmente no site do Knight Center for Journalism in the Americas
A crise mundial da pandemia do novo coronavírus está espalhando uma onda rara de colaboração entre veículos concorrentes na América Latina. Durante a semana, publicações de pelo menos seis países publicaram capas idênticas com manchetes relacionadas ao combate ao coronavírus. Movimento que passa por ações por parte de jornais brasileiros.
A inspiração veio da Espanha. No dia 15 de março, os principais jornais do país europeu publicaram nas suas primeiras páginas uma campanha do Ministério da Saúde, com a mensagem #EsteVirusLoParamosUnidos (este vírus pararemos unidos).
Na quarta-feira, 18, cinco jornais de Porto Rico compartilharam a mesma primeira página. A mensagem foi idêntica a dos periódicos espanhóis: #EsteVirusLoParamosUnidos. Dez emissoras de rádio e TV da ilha também aderiram. Elas divulgaram o slogan durante sua programação.
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“A imprensa séria e tradicional tem sido o escudo para proteger o mundo de notícias falsas e rumores. [E isso] em um momento em que a humanidade precisa de informações precisas e oportunas para ajudar a conter a rápida disseminação do coronavírus”, comenta a editora María Luisa Ferré Rangel, de El Nuevo Día.
No México, a iniciativa foi do jornal El Informador e reuniu mais de 40 publicações. Os impressos estamparam nas suas edições da quinta-feira, 19, os slogans #ElCoronavirusNoPasa e #QuédateEnCasa (“o coronavírus não passa” e “fique em casa”).
Na Argentina, a a Associação de Jornais (Adepa na sigla em espanhol) coordenou a ação no país, que também ocorreu no 19. A maioria dos jornais estampou o slogan “Al virus lo frenamos entre todos. Viralicemos la responsabilidad” (frearemos o vírus entre todos. Viralizemos a responsabilidade).
“Diante do avanço global da pandemia e do impacto que está causando em nosso país, a mídia une suas vozes e suas ações em busca de uma mensagem unívoca e forte, para expressar junto aos cidadãos de todo o país a necessidade de nos comprometermos tudo na contenção do vírus e no cuidado de pessoas”. É o que informa a Adepa em comunicado publicado em seu site.
“A mídia une suas vozes e suas ações”
O mesmo ocorreu no Peru um dia depois. A campanha liderada pelo Conselho da Imprensa Peruana e por jornais do país buscou incentivar os cidadãos a ficar em casa. #YoMeQuedoEnCasa (eu fico em casa) foi o que se leu nas primeiras páginas dos veículos locais.
Também na sexta, jornais de El Salvador dedicaram a primeira página a uma campanha de esperança em tempos de crise. Para isso, escolheu-se a mensagem “juntos saldremos adelante El Salvador” (juntos sairemos na frente, El Salvador).
O gerente de redação do jornal La Prensa Gráfica disse ao próprio jornal que a campanha é um esforço “para mostrar unidade diante da adversidade que hoje enfrentamos devido à pandemia da Covid-19. […] Há momentos como este em que de pôr de lado tudo isso que nos divide e fazer uma frente comum”.
“Mostrar unidade diante da adversidade que hoje enfrentamos”
No Paraguai, os principais jornais publicaram nas suas primeiras páginas a frase “La Garra Guaraní vencerá al Coronavírus”. Ação que ocorreu no domingo, 22. O jornal Crónica publicou o slogan em guaraní, uma das línguas oficiais do país ao lado do espanhol: “Ñande pyapy mbarete ombotapykuéta coronavirus”.
Emissoras de TV da região também entraram na campanha de combate ao novo coronavírus. Um vídeo da Aliança Informativa Latino-Americana mostra jornalistas de quase todos os países do continente orientando o público a se ficar em casa.
https://www.facebook.com/NoticiasCaracol/videos/224123255451784/
Brasil: ações regionais e movimento nacional
No Brasil, enquanto a Associação Nacional de Jornais (ANJ) articulava uma ação semelhante para a segunda-feira, 23, iniciativas estaduais ocorreram na sexta (Piauí) e no domingo (Maranhão e Paraná).
“A receptividade do público tem sido extraordinária. Quando colocamos as postagens das páginas no Facebook e no Instagram, as manifestações foram imediatas, com grande número de compartilhamentos e comentários estimulantes. Embora não busquemos aplauso, mas simplesmente colaborar, ajudar na conscientização sobre a enorme necessidade de isolamento social, ficamos felizes em saber que acertamos. Ser humilde e solidário é o mínimo que podemos fazer”, afirma, em contato com ao Knight Center for Journalism in the Americas, José Osmando. Ele é diretor de jornalismo do Grupo Meio Norte de Comunicação.
“A ideia surgiu no jornal Meio Norte. […] Fizemos a arte aqui no jornal O Dia e compartilhamos com o jornal Meio Norte”, explica ao Knight Center for Journalism in the Americas, a editora-chefe de O Dia, Adriana Magalhães. “Mais do que nunca precisamos sustentar o bom jornalismo. Somente esse jornalismo é capaz de manter a população bem informada e minimizar os problemas causados pelas fakes news. O jornalista está fazendo o seu papel. Nós, jornalistas, nos colocamos na linha de frente, para fazer o link entre a crise e a população”.
“Mais do que nunca precisamos sustentar o bom jornalismo”
No domingo, 22, foi a vez de jornais dos estados brasileiros do Maranhão e do Paraná unificarem suas primeiras páginas com mensagens contra o coronavírus.
Nesta segunda-feira, dia 23, o dia foi de colaboração no âmbito nacional. Dezenas dw=e jornais brasileiros unificaram suas capas para veicular uma campanha da Associação Nacional de Jornais (ANJ). O movimento entre concorrentes do jornalismo é em apoio ao combate ao coronavírus e à desinformação.
A mensagem do anúncio destaca a importância da informação e da responsabilidade de todos no enfrentamento da pandemia. Ao se unirem em um esforço em comum, os jornais também conclamam para a valorização da informação jornalística e criam uma hashtag unificada – #imprensacontraovirus – que indica os esforços dos meios de comunicação na luta coletiva contra o vírus.
“Em situações dramáticas como a que vivemos, informação precisa e contextualizada é um bem ainda mais essencial”, enfatiza o jornalista Marcelo Rech, presidente da ANJ. “A ação demonstra a unidade dos jornais brasileiros em torno de uma causa comum: servir a população com jornalismo de qualidade para, com a responsabilidade que o momento exige, enfrentarmos e vencermos a pandemia”.