Proteção a dados pessoais na web causa divergência na Câmara

Audiência pública realizada pela comissão especial sobre tratamento e proteção de dados pessoais gerou divergências, na quarta-feira, 22, entre representantes da iniciativa privada, do governo e da sociedade civil. A discordância se deu em torno do que deve ou não ser considerado dado pessoal do cidadão para fins de proteção legal.

O colegiado analisa os projetos de lei 4060/12, do deputado Milton Monti (PR-SP), e 5276/16, do Executivo, que tramitam apensados e tratam, entre outros assuntos, da definição de dados pessoais, sensíveis e anônimos. O texto do PL 5276/16 define dado pessoal como aquele que identifica ou pode vir a identificar alguém.

Chefe de pesquisa do Instituto Beta para Internet e Democracia (Ibidem), Paulo Rená concorda com essa definição e entende que dado pessoal é qualquer um que sirva para identificar alguém. “Estamos falando em dados que identifiquem e também os que, potencialmente, permitam a identificação de uma pessoa”, disse.

Rená explicou que a divulgação de uma simples lista com números de CPF não necessariamente identifica uma pessoa, mas a associação desses números com outras informações pode vir a identificar alguém.

Razoabilidade
Também convidada a debater o assunto, a diretora da Associação Nacional de Birôs de Crédito (ANBC) Vanessa Butalla, disse que, no entendimento da ANBC, que representa empresas de análise de risco como Serasa Experian e SPC Brasil, o conceito de dado pessoal deve ser racionalizado e envolver pessoas identificadas ou razoavelmente identificáveis.

Intrigado com a sugestão de incluir a palavra “razoavelmente” na proposta, o relator na comissão, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), questionou a diretora sobre o que ela pretendia mudar. De acordo com Butalla, a ideia é exatamente definir quais dados podem ser razoavelmente identificáveis.

“Se não é possível identificar a pessoa, então o uso do dado não é capaz de gerar prejuízos a essa pessoa. E se não é passível de gerar prejuízos, não deve estar protegido”, argumentou Butalla, que sugeriu também a criação de um órgão regulador para arbitrar, entre outras questões, quais dados serão considerados “razoavelmente” identificáveis.

A representante da ANBC defendeu ainda a flexibilização do acesso a dados pessoais cadastrais, como nome, filiação, data de nascimento e dados biométricos. “Se usados com a simples finalidade de identificação, esses dados não demandam o consentimento do cidadão. Nesse caso, prevalece o interesse público sobre o particular”, disse ela.

Proteção
A professora Laura Schertel, do Centro de Direito, Internet e Sociedade do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), observou que todos os segmentos da economia, tais como o de seguros, o comércio, a indústria e os governos, precisam de dados pessoais para funcionar. Mas ela concorda que a manipulação desses dados traz riscos ao cidadão e precisa ser protegida.

“O grande objetivo aqui não é impedir o fluxo de dados, mas regulamentar esse fluxo, para que empresas e governos saibam como processar esses dados e o cidadão tenha como se proteger”, argumentou Schertel, ao propor uma lei geral de proteção de dados, englobando todos os setores.

Privacidade
Representando o governo, o conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) Luiz Fernando Castro ponderou que atualmente a palavra privacidade deve ser lida de uma maneira relativa e menor. “O serviço maravilhoso do Google ou do Waze que temos de graça não são exatamente de graça, porque nossos dados estão sendo monetizados”, comentou Castro.

Para ele, o texto a ser proposto pelo relator deve se concentrar em princípios já defendidos por leis europeias há 30 anos, como transparência na coleta de dados, lealdade à finalidade do uso dos dados e tratamento em prazo limitado.

Segundo Orlando Silva, a ideia é aprofundar cada uma das visões apresentadas pelos participantes em novas audiências.

Íntegra da proposta:

Reportagem: Murilo Souza
Edição: Marcelo Oliveira
Compartilhe
0
0
Agência Câmara

Agência de notícias criada e mantida pela Câmara dos Deputados desde 1997. Tem como missão manter acesso às informações do Poder Legislativo e promover a participação popular no processo democrático.

Recent Posts

Porter e Almah anunciam fusão no Porter Summit 2024

Empresas anunciam fusão e criam aplicativo integrado para condomínios

18 horas ago

Puma reinventa o varejo moderno com a inauguração da loja matriz em Las Vegas

Marca esportiva global aposta alto na expansão norte-americana com um destino de varejo incomparável que…

18 horas ago

Cemitérios de SP preservam histórias de personalidades negras

Na semana em que é celebrado o Dia da Consciência Negra, é essencial lembrar e…

18 horas ago

A Bitget Wallet lança conjunto de ferramentas para negociação de memecoins, potencializando traders de Solana durante o crescimento do mercado

A Bitget Wallet lança conjunto de ferramentas para negociação de memecoins, incentivando estratégias avançadas de…

18 horas ago

Vitória de Trump traz dúvidas sobre emissão de Green Card

Presidente eleito promete cumprir promessas de campanha sobre imigração e endurecer a entrada de novos…

18 horas ago

Propósito é o livro que pretende impactar a vida dos leitores

Lançamento do livro Propósito, que reúne as histórias e experiências de 30 autores será realizado…

18 horas ago