Jornalista tinha 72 anos. Roberto Avallone não resistiu a uma parada cardiorrespiratória. Fãs e colegas da crônica esportiva brasileira lamentam publicamente a morte do apresentador
“Palmeiras campeão, exclamação!”. “Palmeiras joga mal e entra em crise, interrogação?”. Foi dessa forma, valorizando elogios e questionamentos, que Roberto Avallone se destacou na crônica esportiva do país, sobretudo na mídia televisiva. A sua forma única de apresentar gols e debates sobre futebol, contudo, passam a fazer parte da memória do público e demais profissionais da comunicação. Aos 72 anos, o jornalista morreu na madrugada desta segunda-feira, 25, em São Paulo. Ele não resistiu a uma parada cardiorrespiratória.
De acordo com informações do Blog do Milton Neves, Roberto Avallone passou mal na Alameda Jaú, região paulistana dos Jardins. O jornalista chegou ser socorrido e levado ao Hospital Santa Catarina, na Avenida Paulista. Os médicos, contudo, não conseguiram reanimá-lo. O integrante da crônica esportiva brasileira morreu horas depois de produzir o que viria a ser o seu último texto. Em sua página no UOL, ele teceu críticas ao atacante colombiano Miguel Borja, do Palmeiras, cada vez mais marcado por desperdiçar “gols feitos”.
A parceria de Roberto Avallone com o UOL vinha sendo mantida desde 2012, servindo de reencontro do jornalista com a mídia escrita. No início da carreira, o profissional passou pelos impressos Última Hora e Jornal da Tarde. Migrou para o rádio, passando por emissoras como Eldorado, Jovem Pan e Rádio Bandeirantes. Na televisão, tornou-se apresentador do ‘Mesa Redonda’, da TV Gazeta de São Paulo. Permaneceu à frente da atração por décadas, até ser demitido em 2003 – quando os índices de audiência já eram inferiores aos registrados em anos anteriores.
TV e rádio
Fora da TV Gazeta, foi em duas ocasiões concorrente direto do ‘Mesa Redonda’. Primeiramente, foi contratado pela Rede TV. No então novato canal, Roberto Avallone esteve à frente do ‘Bola na Rede’. Tempos depois, trocou de emissora, passando a comandar mais um programa dominical na Band. Após deixar o Grupo Bandeirantes de Comunicação, passou pela CNT e, posteriormente, ficou um período fora do ar. O retorno aos microfones se deu por meio das ondas sonoras do dial. Contratado pela Rádio Capital De São Paulo, foi um dos apresentadores da equipe esportiva do veículo. Por fim, participou como comentarista eventual de atrações do SporTV — sobretudo as ancoradas por André Rizek.
Trabalho reconhecido
Roberto Avallone conquistou reconhecimentos ao longo de décadas dedicadas ao ofício da crônica esportiva. Entre as consagrações estão duas edições do Prêmio Esso. As premiações foram referentes à cobertura desempenhada pelo Jornal da Tarde nas Copas do Mundo de 1978, na Argentina, e 1986, no México. Nas duas ocasiões, Avallone respondia como chefe de reportagem da editoria de esportes do jornal que era mantido pelo Grupo Estado. Ele, conforme relembra o site do mineiro O Tempo, permaneceu como contratado do JT por 23 anos.
Luto na crônica esportiva
A notícia a respeito da morte de Roberto Avallone fez com que fãs, profissionais da crônica esportiva e até times de futebol reverenciassem publicamente a carreira construída pelo jornalista. O nome dele, inclusive, aparece na lista dos termos mais comentados no Twitter mundo afora. Somente na manhã desta segunda-feira, foram mais de 6 mil mensagens veiculadas na rede de microblog. Pela mesma rede social, na divisão Brasil, os termos “#RIPAvallone” e “Mesa Redonda” figuram entre os principais temas do momento.
Repórter do site Globo Esporte, Alexandre Lozetti pontua que o trabalho de Avallone na televisão moldou o formato adotado para programas de debates esportivos na televisão brasileira. “[Ele] deu grande contribuição à profissão ao turbinar, nos anos 80, o esporte do Jornal da Tarde, que seria a casa de excelentes jornalistas por muitos e muitos anos. Na TV, o modelo de sua Mesa Redonda é base de programas até hoje”, publicou em homenagem ao jornalista. “O trabalho de Roberto Avallone teve imenso impacto na formação de muitos jornalistas esportivos”, afirmou, na mesma linha, Bruno Fonseca, do SporTV.
“Mais um dia muito triste para o jornalismo brasileiro”, resumiu Milton Neves. “Era o maior palmeirense que conheci. Eu tive a honra de substituí-lo no programa ‘Bola na Rede’ na Rede TV em 2004. Nossos sentimentos à família”, lamentou outra experiente integrante da crônica esportiva: Fernando Vannucci. Por meio de seu perfil oficial no Twitter, o Palmeiras externou sua consternação com a morte de seu ilustre torcedor. “A Sociedade Esportiva Palmeiras lamenta o falecimento de Roberto Avallone e deseja toda força aos amigos e familiares do jornalista palmeirense”.
Mensagens de amigos
Articulista-parceiro do Portal Comunique-se, Anderson Cheni teve a oportunidade de trabalhar com Roberto Avallone na Rádio Capital. Revelou que foi alguém com quem teve o prazer de “aprender muito”. Contou, também, que ganhou um apelido, justamente porque acompanhou de perto o último rebaixamento do Palmeiras para a série B do Campeonato Brasileiro: “Profeta do Apocalipse”. Grande responsável por levar o experiente profissional para o SporTV, André Rizek fez questão de usar a rede social para avisar de que sua homenagem irá além do ambiente digital.
“Farei o programa inteiro hoje usando bordões do Avallone. Meu Deus! Exclamação! Interrogação. Pitadinha história. Espaço aberto para informação. Jornalismo Futebol Clube. Minha tia Dora. Evair, vírgula, o Matador. Luxemburgo, vírgula, o estrategista. Que mais?”, anunciou o apresentador do ‘Seleção SporTV’, que iniciou a edição de hoje visivelmente emocionado. Além da edição especial comandada por André Rizek, Roberto Avallone, que deixa três filhos e a mulher, ficará eternizado como um dos principais nomes da história da crônica esportiva do Brasil, exclamação!