Leia, abaixo, mais um texto de Heródoto Barbeiro no Portal Comunique-se
O presidente não quer ouvir falar em paralisar o país. Por isso, estabelece uma estratégia de combate ao coronavírus totalmente ortodoxa. Olha com desconfiança as recomendações e os números divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e amplamente espalhados pela oposição e pela mídia. É uma campanha meramente política, uma vez que é ano de eleições, diz ele.
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Já se cogitou até mesmo em adiar o pleito, coisa que não aconteceu nem mesmo durante a guerra. Uns qualificam sua atitude em relação à pandemia de ignorância, outros de arrogância. O fato é que os institutos de pesquisa de opinião pública registram queda de sua popularidade, que vinha se mantendo firme com os números otimistas da economia. Ninguém podia imaginar que a bolsa fosse cair com a velocidade e o impacto financeiro muito parecidos com a crise que se abateu o mundo em 2009.
Reagir a situações de emergência nunca foi o forte do presidente. Mesmo quando cobrado pelos jornalistas na porta do palácio. Responde confusamente às perguntas, não dá direito à tréplica e nunca se sabe se aquilo é uma entrevista ou apenas um momento para gerar mais polêmica. O fato é que, como as respostas são enviesadas e incompletas, cada um dá a versão que julga mais conveniente. Com isso, aumenta o conflito entre o chefe do Executivo e parte da mídia.
Defende arduamente a volta às atividades econômicas, com o temor que o país possa entrar em uma recessão, que, sabe-se lá, quando pode terminar. Combate o isolamento horizontal como o imposto por governadores, especialmente no estado de maior população do país e na maior cidade. Essa se parece com uma cidade fantasma dos filmes de terror. Quer o isolamento vertical. Ou seja, com uma parte dos funcionários de uma empresa trabalhando para não parar a produção. Mais uma queda de braço.
Há evidentemente uma disputa entre o presidente e a maioria dos governadores de estado. Tomaram iniciativas particulares e se juntaram para criticar as medidas do governo federal. Há também uma clara disputa político-eleitoral entre eles. A liderança da Câmara está nas mãos do inimigo, que não perde oportunidade para atacar pessoalmente o presidente. Nem mesmo o presidente do Congresso se mostra muito amigo, ainda que tenha liberado o possível do orçamento para combater a pandemia do coronavírus.
No meio do cipoal de informações falsas e verdadeiras sobre a doença, as redes sociais não dão sossego. Não há como ficar fora do tsunami de coisas que chegam e trazem as mais diversas opiniões. Mas é ano eleitoral. O que parecia apontar para a eleição do candidato republicano Donald Trump mudou com a consolidação do democrata Joe Biden. O coronavírus pode se tornar no grande eleitor da eleição americana deste ano, uma vez que o pleno emprego e o crescimento econômicos foram derrotados com a chegada mansa e silenciosa do Cisne Negro.
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