Comentarista do TNT usa seu blog no UOL para se posicionar sobre xingamentos de parte da torcida do Palmeiras contra a Rede Globo. Para Mauro Beting, o canal da Turner cumpriu dever jornalístico ao dar voz ao protesto
“Eu não falei nada. Eu não fiz nada. Apenas pedi para não fazermos nada. A não ser jornalismo. Sem corporativismo. Sem celebração”. Com essas palavras, o ‘Mestre do Jornalismo‘ Mauro Beting começa a explicar a postura que teve ao cobrir o jogo Palmeiras X Internacional. No sábado, 4, diretamente do estádio do maior vencedor da história do Campeonato Brasileiro, o comentarista esportivo percebeu o momento em que torcedores palmeirenses começaram a entoar ofensas contra à Rede Globo. Viralizado nas redes sociais, vídeo mostra o cronista pedindo para o narrador André Henning deixar os xingamentos serem escutados pelos telespectadores. Na sequência, a narração dos lances é interrompida por alguns segundos.
“Ô, Rede Globo, vai se foder. O meu Palmeiras não precisa de você”, gritava a torcida em pleno Allianz Parque. O xingamento mostra que a negociação entre o time e a emissora de televisão inflou os ânimos de parte dos fãs do time paulista. Para o Brasileirão 2019, que já teve a sua terceira rodada concluída, as duas partes — Palmeiras e Grupo Globo — não se acertaram em nenhuma plataforma. O conglomerado de mídia detém os direitos de transmissão da competição na TV aberta e no sistema pay per view. Com isso, na telinha, a aparição da equipe tem se resumido às transmissões feitas pelo TNT. Canal controlado pela Turner, ele tem, na TV por assinatura, os direitos sobre outros seis clubes no torneio: Athletico, Bahia, Ceará, Fortaleza, Internacional e Santos.
Nome do estádio
Ao publicar a “nota oficial” sobre a conduta que teve durante o jogo, Mauro Beting chamou a atenção para outro ponto. Ele sinaliza que os veículos de comunicação do Grupo Globo erram ao não permitir que os jornalistas da casa mencionem o nome oficial do estádio da Sociedade Esportiva Palmeiras. “Ao vivo é assim. Tanto quanto ter uma câmera na sua cabine mostrando o jogo aberto e democrático de uma transmissão no Allianz Parque, não na Arena Palmeiras. Dizer o nome certo não é ‘naming right‘. É dever de ofício. Quem sabe faz ao vivo. E quem não gosta, edita. Sem maquiagem. Apenas mostrando o que por décadas aconteceu. Mas muitas vezes nem isso se mostrava”, afirma o jornalista esportivo. Ele garante, contudo, que considera positivo o fato de a Rede Globo cobrir o futebol, mas desde que se tenha “concorrência, não monopólio”.
“Apenas demos vez a quem tem voz. Ouvimos o que o povo fala. O outro lado. Sem aumentar o som de uma torcida ou baixar o da outra. Sem falar por cima para esconder o que se escancarou mais uma vez. Só a realidade. Não um reality-show. Apenas deixando a torcida se manifestar na transmissão da TNT/Esporte Interativo, ainda que de forma virulenta e não necessariamente correta. Pedi para deixarmos as pessoas que nos viam entenderem o que o estádio gritava. Como muitas ruas urraram nas últimas décadas e nem sempre foram ouvidas. Deixar o estádio falar como nunca berrou antes. Ou pior: nunca foi ouvido”, argumenta em seu texto o premiado cronista esportivo. Para quem o estádio alviverde tem nome e sobrenome: Allianz Parque.
Parceria nas redes
Sem acordo com o Grupo Globo, o Palmeiras tem funcionado como divulgador dos jogos transmitidos pelo TNT. Antes da partida de sábado, as contas oficiais da equipe nas redes sociais foram usadas para divulgar como os torcedores poderiam sintonizar o canal da Turner. Com imagem, o time divulgou os espaços ocupados pelo veículo nas operadoras NET, Sky, Claro TV, Oi e Vivo TV. O Internacional, que tem contrato com o Grupo Globo na TV aberta e no pay per view, também adotou a mesma estratégia. Os atos dos dois adversários foram elogiados pelo locutor esportivo André Henning. “Boa!“, publicou o narrador no Twitter.
Oportunidade para o rádio
Enquanto executivos de Palmeiras e Globo seguem em conversas em busca de um acordo e parte da torcida alviverde xinga à empresa de mídia durante os jogos, a equipe paulista segue fora da TV aberta e do pay per view. A ausência surge como possibilidade de emissoras de rádio se destacarem na cobertura das partidas que não forem transmitidas pelo TNT. Na segunda rodada, por exemplo, Rádio Bandeirantes e Transamérica escalaram parte de sua equipe esportiva para acompanhar — e transmitir de perto — os detalhes do confronto CSA X Palmeiras, diretamente de Maceió. Nesta segunda-feira, 6, o ‘Globo Esporte’ destacou como Oscar Ulisses, da Rádio Globo de São Paulo, narrou o gol palmeirense na vitória de 1 a 0 contra o Internacional. Na atração, os gols das partidas envolvendo São Paulo e Corinthians repercutiram trechos de narrações oriundas da televisão.