Em notas, ABI e Abraji mostram que o jornalismo brasileiro está longe de ser extinto. As duas entidades repudiaram recente declaração do presidente Jair Bolsonaro
“Quem não lê jornal não está informado. E quem lê está desinformado. Tem de mudar isso. Vocês são uma espécie em extinção. Eu acho que vou botar os jornalistas do Brasil vinculados ao Ibama”. Foi dessa forma que o presidente da República, Jair Bolsonaro, se dirigiu na segunda-feira, 6, a repórteres que tentavam lhe fazer indagações nas imediações do Palácio da Alvorada, em Brasília. Diferentemente da declaração do mandatário, duas entidades mostraram que o jornalismo está longe de ser extinto.
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Em nota assinada pelo presidente Paulo Jerônimo de Sousa, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) foi a primeira a se posicionar conta a fala de Bolsonaro. A entidade pontua que, longe da extinção, o jornalismo — no Brasil e em todo o mundo — “sobreviverá por mais tempo do que políticos inimigos da democracia”. Esses personagens tendem, segundo a instituição, a “ser engolidos pela história”.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) concluiu, por sua vez, que Bolsonaro é um ignorante quando o assunto é compreender o trabalho da imprensa — esteja ela em processo de extinção ou não. A entidade mencionou que o político sem partido parece ignorar até a própria função de governante do país. O texto assinado pela diretoria reforça que a declaração do presidente da República contra a mídia foi por causa de pergunta sobre reportagem do UOL sobre uso de dinheiro público para financiamento de sua campanha para deputado federal em 2014.
“Novamente, Jair Bolsonaro usa um discurso típico de líderes autoritários: diante de uma notícia que o desagrada, ataca o mensageiro, sem se preocupar em esclarecer o fato noticiado. Se quer mesmo preservar o jornalismo e os jornalistas, basta o presidente obedecer a Constituição sob a qual governa e respeitar a liberdade de imprensa, deixando de lado declarações irresponsáveis e retaliações”, crítica a Abraji.
Íntegras
Nota da ABI:
ABI rechaça declarações do presidente da República
O país e o mundo têm sido surpreendidos, a cada momento, por declarações estapafúrdias do presidente da República e de seus auxiliares mais próximos. Até a manhã desta segunda-feira, a mais recente dessas declarações tinha sido a de que os jornalistas são “um espécie em extinção”, que, como tal, deveriam ficar sob cuidados do Ibama.
O presidente não deve confundir o que talvez seja um desejo oculto seu com a realidade.
Enquanto a informação for uma necessidade vital nas sociedades modernas, e ela será sempre, o jornalismo vai continuar a existir.
E, com certeza, sobreviverá por mais tempo do que políticos inimigos da democracia, que, este sim, tendem a ser engolidos pela história.
Paulo Jerônimo de Sousa
Presidente da ABI
Nota da Abraji:
Bolsonaro volta a usar discurso típico de líderes autoritários e ataca imprensa
Em mais uma demonstração de ignorância sobre o papel da imprensa e seu próprio status de presidente da República, Jair Bolsonaro acusou meios de comunicação de publicar desinformação a seu respeito nesta segunda-feira (6.jan.2020). Na entrada do Palácio da Alvorada, declarou, enquanto cumprimentava eleitores: “Quem não lê jornal não está informado. E quem lê está desinformado. Tem de mudar isso. Vocês são uma espécie em extinção. Eu acho que vou botar os jornalistas do Brasil vinculados ao Ibama.”
O presidente comentava uma reportagem do UOL, segundo a qual ele usou recursos públicos em sua campanha a deputado federal em 2014: “É de uma imbecilidade. (…) Não sabe nem mentir mais”.
Acusou, ainda, a Folha de S. Paulo de “usar mentiras”. Em nenhum dos casos — como já é habitual — Bolsonaro apresentou fatos para contrapor a reportagem ou demonstrar o uso de mentiras.
Novamente, Jair Bolsonaro usa um discurso típico de líderes autoritários: diante de uma notícia que o desagrada, ataca o mensageiro, sem se preocupar em esclarecer o fato noticiado.
Se quer mesmo preservar o jornalismo e os jornalistas, basta o presidente obedecer a Constituição sob a qual governa e respeitar a liberdade de imprensa, deixando de lado declarações irresponsáveis e retaliações.
Diretoria da Abraji, 6 de janeiro de 2020.