A história é dividida em eras. Todo mundo estudou isso na escola. Aliás, o debate, depois de se aprender sobre as diferentes “eras”, era justamente discutir o que e qual movimento recente poderia ser considerado como tal. Sem a pretensão de ditar rumos, receio que estamos, ao menos, numa pretensão de era, a da “viralização”.
Parece ser o que importa, o que basta, o que regula importância saber o que viralizou. Veja, abaixo, a chamada do portal Lance, de esportes, que apareceu nos destaques do Google. Textualmente, a frase “Veja o que viralizou no dia”, como sinônimo de mais importante, de notável ou de imperdível é usada sem cerimônias.
Exclui-se nominalmente o trabalho da redação profissional de jornalismo, aparentemente. Basta um robô contador de likes para saber o gerou mais citações. Imagine, então, o seguinte exemplo de manchete, segundo a lógica (que parece inimaginável, mas não é): “veja o que viralizou no dia das Olimpíadas, segundo o trabalho de viralização e geração de cliques de robôs”.
Não temos falado que muito do que tem proeminência nas redes sociais é pela ação de robôs? Uma redação pode estar sendo dominada por robôs achando que não está. Não tardará e alguém fará a pergunta de para que humanos formados em escolas de comunicação?
Sem incluir a foto do narrador Everaldo Marques, que está na chamada porque faz a cobertura pelos canais do Grupo Globo e foi usada pelo jornal, a forma como se dá o título vem a partir de uma tendência equivocada transformada em jornalismo por um veículo de imprensa.
E não tem sido apenas o Lance. O conceito “o que viralizou” tem sido usado como sinônimo de “mais importante” por mais veículos com frequência preocupante. “O mais importante”, “o mais notável” e “imperdível” deveriam ser do crivo jornalístico, da experiência do repórter que faz a cobertura, do especialista nisso ou naquilo. Não segundo as redes sociais.
O jornalismo perde importância ao se render desta maneira às redes “virais”, como critério para a manchete ou reportagem sobre os Jogos Olímpicos. Afinal, quem precisa de jornalista ou de jornal para saber o que “viralizou” nas redes sociais sobre o que quer que seja? Um jornal e um jornalista precisam entregar muito mais que isso.
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Conteúdo publicado originalmente no perfil do autor no Facebook.
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