Opinião

A era da viralização – por Adalberto Piotto

A história é dividida em eras. Todo mundo estudou isso na escola. Aliás, o debate, depois de se aprender sobre as diferentes “eras”, era justamente discutir o que e qual movimento recente poderia ser considerado como tal. Sem a pretensão de ditar rumos, receio que estamos, ao menos, numa pretensão de era, a da “viralização”.

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Parece ser o que importa, o que basta, o que regula importância saber o que viralizou. Veja, abaixo, a chamada do portal Lance, de esportes, que apareceu nos destaques do Google. Textualmente, a frase “Veja o que viralizou no dia”, como sinônimo de mais importante, de notável ou de imperdível é usada sem cerimônias.

(Imagem: Reprodução/Google)

Exclui-se nominalmente o trabalho da redação profissional de jornalismo, aparentemente. Basta um robô contador de likes para saber o gerou mais citações. Imagine, então, o seguinte exemplo de manchete, segundo a lógica (que parece inimaginável, mas não é): “veja o que viralizou no dia das Olimpíadas, segundo o trabalho de viralização e geração de cliques de robôs”.

Uma redação pode estar sendo dominada por robôs achando que não está

Adalberto Piotto

Não temos falado que muito do que tem proeminência nas redes sociais é pela ação de robôs? Uma redação pode estar sendo dominada por robôs achando que não está. Não tardará e alguém fará a pergunta de para que humanos formados em escolas de comunicação?

Sem incluir a foto do narrador Everaldo Marques, que está na chamada porque faz a cobertura pelos canais do Grupo Globo e foi usada pelo jornal, a forma como se dá o título vem a partir de uma tendência equivocada transformada em jornalismo por um veículo de imprensa.

Quem precisa de jornalista ou de jornal para saber o que “viralizou” nas redes sociais?

Adalberto Piotto

E não tem sido apenas o Lance. O conceito “o que viralizou” tem sido usado como sinônimo de “mais importante” por mais veículos com frequência preocupante. “O mais importante”, “o mais notável” e “imperdível” deveriam ser do crivo jornalístico, da experiência do repórter que faz a cobertura, do especialista nisso ou naquilo. Não segundo as redes sociais.

O jornalismo perde importância ao se render desta maneira às redes “virais”, como critério para a manchete ou reportagem sobre os Jogos Olímpicos. Afinal, quem precisa de jornalista ou de jornal para saber o que “viralizou” nas redes sociais sobre o que quer que seja? Um jornal e um jornalista precisam entregar muito mais que isso.

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Conteúdo publicado originalmente no perfil do autor no Facebook.

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Adalberto Piotto

Jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba com especialização em economia pela Fipe-USP. Apresentador do ‘Pensando o Brasil’, programa fruto da parceria com o CIEE. É diretor e produtor do filme-documentário “Orgulho de Ser Brasileiro” (2013), de sua autoria, que disseca o estilo de ser do brasileiro com todas as suas nuances e oscilações de sentimento enquanto cidadão. De 1999 a 2011, foi âncora da CBN em São Paulo, onde começou como repórter. Em 2014, de julho até o início de dezembro, foi âncora do ‘Jornal da Manhã’, noticiário transmitido pela Jovem Pan. É palestrante nas áreas de economia, realidade social brasileira e jornalismo.

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