O mesmo autor da música “Coração de Estudante” diz em um outro clássico da MPB que “o artista tem de ir aonde o povo está”. Parodiando Milton Nascimento, podemos afirmar que o mesmo se aplica aos professores. Se antes o aluno via-se em um emaranhado sistema educacional, com regras, diretrizes, linguagens e comportamentos impostos, agora, o jogo virou. Hoje, o professor é quem se vê como aprendiz em um universo nativo de seus alunos.
No mundo digital, qualquer informação está disponível a todos, de maneira quase democrática, e não mais restrita à lousa do professor. Esse profissional precisa compreender a realidade dos seus alunos para se apropriar de suas linguagem, formato e dinâmica e aplicá-las em sala de aula.
O panorama já vinha mudando, mas de forma muito lenta e atravancada, em boa parte, pelo conservadorismo da enferrujada engrenagem educacional. No entanto, essa transposição teve de assumir uma velocidade supersônica, por causa do interminável isolamento imposto pela Covid19. Por ironia, boa parte dos professores que via no celular, no WhatsApp e na internet ameaças a sua tradicional aula expositiva, passou a depender delas para poder continuar seu ofício.
Essa revolução provocada pela doença fez com que tivéssemos que nos reinventar em tempo recorde. O conteúdo base pode não ter mudado ainda, mas a forma de transmissão precisou usar da tecnologia como canal transmissor tendo que, para isso, assumir formatos totalmente diferentes. Isso obriga o profissional de educação a sair de sua zona de conforto. Como no ‘Show do Milhão’ teve que pedir auxílio aos universitários (no caso estudantes de todos os níveis). Finalmente isso fez com que os estudantes saíssem da posição de meros espectadores para atuarem também como protagonistas da construção de seu próprio conhecimento.
Diante dessa necessidade de adaptação, tive coragem de despir de meus preconceitos intelectuais e tecnológicos e ousar trazer o “Big Brother Brasil” para dentro de minha sala de aula. Aquele laboratório em tempo real, ao alcance de todos e a qualquer momento, é desafiador. No meu caso, apliquei nas aulas de gestão e empreendedorismo dos cursos de graduação das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha). No entanto, poderia ser perfeitamente aplicado em turmas de ensinos médio e parte do fundamental.
Por meio da análise do comportamento dos personagens do programa de TV, pude trabalhar conceitos como: inovação, comportamento, comunicação, oratória, relacionamento, gestão de crise, ética, geografia, cultura, regionalismo… E nem preciso dizer que o engajamento foi infinitamente maior, assim como estão sendo a assiduidade, a adimplência e média nas notas das provas e seminários realizados.
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Por Luiz André Ferreira, professor e jornalista. Mestre em bens culturais e em projetos socioambientais. Pioneiro com a coluna ‘Responsabilidade.com’, sobre sustentabilidade, no lançamento da edição do jornal Le Monde em português, em 2008. Passagens pela Reuters, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Estadão, Grupo Bandeirantes e Sistema Globo de Rádio.
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