A conturbada relação entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e órgãos de comunicação ganhou novos episódios nesta semana. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) fez questão de se referir ao político como um “mentiroso contumaz”. Por sua vez, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) anunciou o ingresso de ação contra o governante no Supremo Tribunal Federal (STF). Por fim, a exibição na TV Brasil de denúncias contra o sistema eleitoral poderá fazer com que o mandatário tenha de prestar esclarecimentos ao Ministério Público.
Em nota divulgada na noite de quinta-feira, 29, o presidente da ABI, Paulo Jeronimo, pautou-se pelo mais recente relatório divulgado pela organização internacional Artigo 19. De acordo com levantamento realizado pela entidade, Bolsonaro emitiu mais de 1,6 mil declarações falsas ou enganosas no decorrer de 2020. “Trata-se, pois, de um mentiroso compulsivo”, afirmou o jornalista. A carta assinada por ele lamenta a postura do presidente da República contra o processo eleitoral. “Confiança de que as instituições brasileiras garantirão a normalidade do pleito”, diz trecho do comunicado.
Um dia antes da nota da ABI, a Abraji já havia se movimentado contra o chefe de Estado brasileiro. Mais do que reclamar ou criticar a postura adotada por Bolsonaro, a entidade agiu junto ao poder Judiciário. Em texto divulgado em seu site, a associação informa ter ingressado com mandado de segurança no STF. A ação visa com que os ministros proíbam o presidente de bloquear jornalistas nas redes sociais. Monitoramento aponta que 71 perfis de comunicadores foram bloqueados no Twitter pelo político desde setembro do ano passado.
Um controle exercido por um funcionário público sobre fontes de coleta de informação de jornalistas
Abraji sobre Jair Bolsonaro
Na ação, a Abraji, que é defendida pelas advogadas Tais Borja Gasparian e Mônica Filgueiras da Silva Galvão, alega que Bolsonaro utiliza as plataformas de redes sociais para divulgar suas realizações enquanto servidor público. Dessa forma, o bloqueio afetaria a liberdade de informação. “Impede o profissional de conseguir impressões e interagir com o político, além de não ter acesso à interação de outros usuários com a conta, o que funciona, na prática, como um controle exercido por um funcionário público sobre fontes de coleta de informação de jornalistas”, alega a entidade.
Outro imbróglio entre Jair Bolsonaro e a imprensa envolve diretamente um canal de televisão público. Isso porque a tradicional live semanal apresentada pelo presidente na internet ganhou, desta vez, espaço em plena programação da TV Brasil, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Em meio à transmissão, que contou com mais de duas horas ininterruptas de duração, o político defendeu a implementação do voto impresso, criticou o atual sistema eleitoral e disparou ataques pessoais ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso.
A veiculação de live de Bolsonaro pela TV Brasil chamou a atenção do deputado federal Alencar Braga (PT-SP). Na visão do parlamentar, o presidente da República infringiu regras e fez uso de uma concessão pública de televisão para promover um “comício eleitoral”. Ao falar em crime de improbidade, o petista avisou que encaminhará denúncia à Procuradoria-Geral da República (PGR). Nesse sentido, o congressista – que é aliado do ex-presidente Lula – mostrou-se indignado com a mobilização de “recursos públicos para fazer propaganda pessoa”.
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