O Globo produziu reportagem sobre investigação do Coaf que tem David Miranda como alvo. Deputado pelo Psol do Rio de Janeiro, ele é casado com Glenn Greenwald
Dono do site The Intercept Brasil reclamou de “vazamentos ilegais”. Em defesa do marido, norte-americano chamou jornalistas da publicação de “corruptos” e “propagandistas” da Lava Jato
Proprietário do site The Intercept Brasil e porta-voz da série #VazaJato, Glenn Greenwald partiu para a ofensa contra jornalistas de O Globo. Para ele, os profissionais do veículo impresso são “corruptos” e “propagandistas” da operação Lava Jato. O posicionamento do comunicador norte-americano foi registrado em vídeo e postagens nesta semana. Ele usou as redes sociais para sair em defesa de seu marido, o parlamentar David Miranda. Deputado federal pelo Psol do Rio de Janeiro, o político foi personagem central da matéria sobre relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
A reclamação Glenn Greenwald é motivada pela reportagem assinada por Juliana Dal Piva e João Paulo Saconi. A dupla teve acesso com exclusividade à informação de que relatório do Coaf indica “movimentações atípicas” nas contas bancárias de David Miranda. Em pouco mais de um ano, as transações bateram a casa de R$ 2,5 milhões. No ar desde o fim da manhã de quarta-feira, 11, a matéria de O Globo pautou outros veículos de comunicação (vídeo abaixo). Além do parecer por parte do Coaf, o conteúdo original apresenta a versão do deputado psolista, que “nega irregularidades”. Contextualiza, ainda, que o relatório foi enviado ao Ministério Público dois dias após a primeira reportagem da #VazaJato, série do site The Intercept Brasil que apresenta conversas entre o procurador Deltan Dallagnol, o hoje ministro Sergio Moro e outras autoridades. Registros colhidos a partir do aplicativo Telegram.
Retaliação?
Ao decorrer dos mais de 14 minutos de vídeo crítico ao jornal O Globo, Glenn Greenwald reforça — por mais de uma vez — que a reportagem da dupla Juliana Dal Piva e João Paulo Saconi surgiu a partir de “vazamentos ilegais” supostamente cometidos por autoridades relacionadas ao caso. Na chamada no YouTube, o dono do Intercept garante, ainda, que o material que a pauta a matéria do jornal carioca é “falso”. Na gravação, contudo, ele confirma que, entre entradas e saídas, o seu marido parlamentar realmente movimentou o valor milionário ao longo do período citado. Por outro lado, rechaça de forma veemente a possibilidade de quaisquer irregularidades cometida por seu companheiro.
Glenn Greenwald garante que, apesar da movimentação financeira ter sido atrelada à conta de David Miranda, o responsável pela maior parte do valor milionário é ele próprio. O jornalista norte-americano garante que pode comprovar facilmente a licitude das operações. Informa que é um dos mais “altos salários” na lista de colaboradores da organização responsável por manter o projeto The Intercept no ar. O veículo de comunicação online é mantido pela First Look Media, iniciativa do empresário Pierre Omidyar, do eBay. Além disso, Glenn avisa que ganha dinheiro como escritor (tendo livros em listas de mais vendidos) e acusa as autoridades de terem forjado o relatório como retaliação ao seu trabalho jornalístico. Para isso, acusa membros do Ministério Público de terem usado o “subserviente” O Globo para tal objetivo. Até o momento, a equipe de O Globo não se posicionou a respeito das críticas por parte de Glenn Greenwald.
Nota de repúdio
A Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos (Abraji) tem conduta diferente da de O Globo. E se posiciona publicamente sobre o caso. Ao abordar o caso em seu site, a entidade destaca que os dois repórteres de O Globo responsáveis pela matéria sobre David Miranda se tornaram alvos de “ofensas e comentários agressivos”. E externa apoio à dupla. “[Manifestamos] solidariedade a Dal Piva e a Saconi. Nenhum jornalista deve ser acusado sem provas por realizar seu ofício de divulgar informações”. A instituição não poupou o comunicador norte-americano de críticas. “Lamentamos que um jornalista lance mão de expedientes dos quais ele próprio é vítima frequente – acusações e descredibilização – contra outros colegas, ultrapassando o limite da crítica ao trabalho feito”, destaca a Abraji. A nota da entidade foi divulgada na tarde desta sexta, 13.