Coringa, Curinga… leia, abaixo, mais um texto escrito por Edson de Oliveira
Não achei nenhuma graça em ver e ouvir todos falando bem de “Joker”. Primeiro, porque, do jeito como demoro tanto para ir a cinema (sic), acho que só devo assistir ao filme do inimigo do Homem-Morcego que conheço desde o tempo em que ele era vivido por Cesar Romero quando, espero, for exibido em algum canal de televisão aberto e, segundo, porque a versão brasileira do título foi escrita com “o”, como se vê em, por exemplo, “moqueca” e “moleque”, palavras que em quimbundo, a mesma língua africana que deu origem a “kuringa”, que significa matar, são escritas com “u” (“mu’keka”, “mu’leke”).
Uma vez que nem todos os falantes do português defendem esta justificativa, que evita que a primeira sílaba com o “u” etimológico chame a atenção (sem comentários), o português acabou registrando duas formas para a mesma palavra: “curinga”, no sentido de carta do baralho, versátil, multifuncional, polivalente, bobo da corte, e “coringa”, no sentido de vela usada em canoas ou barcaças, bem como quem trabalha nessas mesmas embarcações, e pessoa feia, enfezada, magra ou raquítica.
Diferenças à parte, acho tão difícil convencer os fãs de “coringa” a escrever “curinga” quanto achava difícil fazer as distribuidoras da porrada de filmes para adultos cujas legendas já revisei aceitar (tirem as crianças da sala) “boceta” por “buceta”, “foder” por “fuder”, “colhão” por “culhão” e “veado” por “viado”.
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