Iniciativa é do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, na sigla em inglês). Fórum quer unir jornalistas que estão à frente do noticiário sobre o novo coronavírus
Por Paola Nalvarte. Texto publicado originalmente no site do Knight Center for Journalism in the Americas
“A importância do jornalismo profissional nestes tempos de crise global da saúde assume uma importância que pode definir a vida ou a morte das pessoas”, diz Luis Botello, vice-presidente do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, na sigla em inglês). Ele foi entrevistado pelo Knight Center for Journalism in the Americas.
Nesse sentido, para combater a desinformação existente sobre o novo coronavírus que já se espalhou para mais de 160 países, o ICFJ lançou recentemente o Fórum Global sobre Jornalismo em Saúde e Crise (Global Health Crisis Report Forum). Nesse momento, a colaboração transnacional de jornalistas “é essencial”, acrescenta Botello.
Esta é uma iniciativa do ICFJ e da sua rede de jornalistas internacionais da IJNet para reunir e conectar jornalistas, checadores de dados e especialistas em saúde de todo o mundo. O fórum procura assim satisfazer as necessidades jornalísticas e fornecer as ferramentas e os recursos necessários para fazer uma cobertura jornalística responsável da pandemia.
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“Durante o planejamento do Fórum, contatamos a rede global de repórteres do ICFJ e também convocamos jornalistas externos no Twitter para descobrir que tipos de desafios eles estavam enfrentando para cobrir a pandemia do novo coronavírus”, conta ao Knight Center Stella Roque, diretora de community engagement do ICFJ e uma das quatro administradoras do grupo do Fórum no Facebook. “A resposta foi enorme. Recebemos uma avalanche de emails de repórteres de todo o mundo. As necessidades eram bastante variadas”, complementa.
Os jornalistas que responderam à chamada, segundo Stella , pediram mais orientações para cobrir uma crise de saúde –especialmente os jornalistas que nunca cobriram questões de saúde antes – como lidar com questões de ética e privacidade ao reportar sobre pacientes e familiares dos que morreram com o vírus, como cobrir com segurança a pandemia sem ter um “kit de pandemia” em suas redações, que agora possuem poucas máscaras, entre outras.
Na América Latina, os jornalistas estão aproveitando o fórum para compartilhar webinars que eles mesmos estão organizando em seus países com diretrizes para cobrir a pandemia localmente. O fórum também serve como um espaço para solicitar referências de fontes em espanhol ou com quem entrar em contato para podcasts, artigos, etc., ou para oferecer a sua experiência e contatos que possam servir aos colegas de outros países de língua espanhola.
Ações
Por exemplo, uma jornalista do México obteve por meios do fórum as informações de contato de uma especialista em saúde mental no Peru para seu podcast em espanhol para rádio e web. Outra jornalista colombiana convocou seus colegas para realizar uma colaboração jornalística sobre a pandemia, além de oferecer sua experiência em epidemias aos membros do fórum.
O fórum foi lançado em 20 de março e a primeira das suas atividades foi o webinar com o Dr. Samba Sow, especialista em saúde pública que ajudou a mitigar a epidemia de Ebola no oeste da África e agora é um emissário da Organização Mundial para Saúde (OMS) em assuntos relacionados à pandemia.
O webinar, do qual participaram jornalistas de todo o mundo, foi transmitido pelo Facebook Live em 26 de março.
Em um recente webinar em espanhol, em que a médica peruana Gabriela Minaya, especialista em doenças infecciosas e tropicais, foi entrevistada, a jornalista cubana Elaine Díaz Rodríguez, fundadora e diretora do site Periodismo de Barrio, conseguiu fazer algumas perguntas à fonte e colocar suas dúvidas sobre os testes clínicos que estão sendo realizados para aliviar os sintomas da doença.
Curadoria
Elaine também pediu no Fórum que haja um debate sobre a utilidade do uso de máscaras ao sair de casa, para que as vozes dos especialistas sejam mais claras sobre o assunto.
Embora o grupo no Facebook seja privado e direcionado principalmente a jornalistas, eles também publicam uma curadoria de webinars e bate-papos ao vivo nos sites do centro de jornalistas e da sua rede global de repórteres.
No entanto, além de jornalistas, eles também aceitam como membros os checadores de dados, estudantes de jornalismo, especialistas em saúde e funcionários de organizações de defesa e desenvolvimento de mídia que buscam apoiar jornalistas, disse Roque.
Para o fórum, o ICFJ começou entrando em contato com especialistas em saúde porque identificou que uma das coisas de que muitos jornalistas precisam agora é de informações científicas precisas. Segundo Roque, esse é especialmente o caso de repórteres que estão em vários países do mundo onde os governos não oferecem nenhuma comunicação sobre a pandemia ou censuram todas as informações relacionadas.
Rede de contatos
“Entramos em contato com universidades, observando quais virologistas, epidemiologistas, médicos e funcionários da OMS estavam oferecendo comentários à imprensa, e fizemos um esforço para nos comunicar com eles e, assim, confirmar sua participação nas conversas com os repórteres do nosso Fórum”, disse Elaine.
Até o momento, as ferramentas que eles fornecem e os seminários on-line e bate-papos ao vivo são parte em inglês, parte em espanhol.
A jornalista peruana que fundou o site de jornalismo sobre questões de saúde Salud con Lupa, Fabiola Torres, é responsável por facilitar webinars e outros conteúdos e atividades em espanhol. Torres, como bolsista Knight do ICFJ, também é uma das administradoras do grupo Fórum no Facebook.
“Com a equipe do ICFJ na sede em [Washington] DC e vários bolsistas Knight do ICFJ distribuídos em diferentes partes do mundo, pensamos em uma maneira de ajudar a cobrir essa pandemia”, diz Fabíola.
Moderadores
Segundo Fabíola, os administradores do fórum do Facebook são responsáveis por aceitar as solicitações dos jornalistas que pedem para participar do grupo e se coordenam para propor uma agenda de assuntos. Eles também publicam dados e fontes que podem ser úteis para jornalistas, oferecendo-lhes também um espaço seguro sem notícias falsas.
“Esta questão não é uma decisão de uma única pessoa. Somos um grupo de moderadores conectados pelo Slack para ajudar no processo”, disse Torres. Além de Elaine e Fabíola, os outros dois administradores são Taylor Mulcahey da IJNet e Rick Dunham, co-diretor do programa Global Business Journalism do ICFJ na Universidade de Tsinghua.
Apenas uma semana após o lançamento do fórum, ele já tem mais de 1.800 membros no grupo do Facebook.
Após a grande recepção, Botello comentou que eles estão trabalhando para oferecer as videoconferências, recursos e conteúdo do fórum em outros idiomas. “Podemos incluir francês, árabe e português entre os idiomas, no momento.”
Mas integrantes
Da mesma forma, Botello comentou que, com o fórum, eles buscam uma participação mais proativa dos jornalistas, que promovem novas ideias que fomentem “melhores padrões” jornalísticos para cobrir a crise, um maior uso da análise de dados, visualizações e uma maior cobertura transfronteiriça de profundidade da pandemia da Covid-19.
“Como qualquer problema global, exige cobertura onde a colaboração além-fronteiras é eficaz”, afirmou.
Desde a primeira semana de operações do Fórum, o ICFJ pôde testemunhar alianças e companherismo entre repórteres e grupos jornalísticos em todo o mundo.
“Vimos repórteres da África convidando colaboradores para que sua equipe transfronteiriça se inscrevesse no Coronavirus News Collaboration Challenge do (Desafio de Colaboração Jornalística sobre Coronavírus) Centro Pulitzer. Vimos um aliado do ICFJ, o Code for Africa, oferecer assistência de visualização de dados a um repórter do Caribe (…) e muitos outros exemplos de conexões que estão enriquecendo esses jornalistas em meio à pandemia”, afirmou Roque.
Resolvendo um problema
Para Botello, o fórum visa responder “energeticamente” a um problema de saúde global que precisa de uma sociedade mais informada. “A colaboração transnacional de jornalistas é essencial para combater o fenômeno da desinformação sobre o coronavírus”, acrescentou.
“Queremos que essa conexão global resulte em mais colaborações transfronteiriças para reportar questões de crise de saúde e continue a conectar jornalistas com especialistas em saúde, conforme as necessidades”, disse Elaine. Ao mesmo tempo, acrescentou, eles querem aproveitar o Fórum para conduzir investigações jornalísticas sobre temas como censura, desinformação e outras questões relacionadas aos desafios enfrentados pelas redações, “neste caso, como a pandemia da Covid-19 potencialmente transformará a maneira como fazemos jornalismo”.
Os próximos webinars com especialistas em questões de saúde, em que os jornalistas que se registrarem com antecedência podem enviar suas perguntas, estão listados neste link. Nesse mesmo link, estão publicados os vídeos dos webinars e dos chats ao vivo com um resumo dos pontos importantes que eles discutiram.