Omitir do público informações sobre crimes praticados por uma entrevistada é errado. Ao menos é o que a direção da Rede Globo avalia agora. Em nota divulgada no ‘Jornal Nacional’ de terça-feira, 9, o canal voltou atrás e pediu desculpas. Pedido em decorrência da reportagem exibida pelo ‘Fantástico’ em 1º de março. Na ocasião, o programa informou que a presidiária trans Suzy não recebia visitas havia oito anos. Os telespectadores da reportagem conduzida por Dráuzio Varella chegaram a ver o abraço do médico na detenta, mas não foram informados de que a personagem cumpre pena por estuprar e assassinar um garoto de nove anos.
“O ‘Fantástico’ e a Globo pedem desculpas à família da vítima e a todos os telespectadores”, diz trecho da nota lida pelo âncora e editor-chefe do ‘JN’, William Bonner. O registro confirmou a mudança de postura por parte da emissora de televisão. Na noite de 8 de março, horas após o site O Antagonista levantar a ficha criminal de Suzy, a direção de jornalismo do canal e o comando do ‘Fantástico’ se limitaram a dizer que falar dos crimes “não era o objetivo” da matéria que teve Dráuzio Varella como repórter. Avaliação que foi modificada internamente em menos de 48 horas, em meio a críticas ao médico e à Globo nas redes sociais e em outras mídias.
A postura que não mudou foi a da Globo em expôr Dráuzio Varella diante da situação. Num primeiro momento, na última edição do ‘Fantástico’, a emissora não apresentou nenhum tipo de posicionamento próprio. O programa apenas leu parte da nota então divulgada pelo médico — e pontuou que ela era apoiada integralmente pelo veículo. No ‘Jornal Nacional’, a empresa de comunicação reproduziu vídeo em que o doutor acaba assumindo sozinho a culpa pelo equívoco pela omissão de informações. “Assumo totalmente a responsabilidade pela repercussão negativa que o caso teve”, afirmou o médico em vídeo que tem pouco mais de 2 minutos de duração. Ele afirma, ainda, que não será candidato a nada nas próximas eleições.
Além de expor Dráuzio Varella por meio do ‘Jornal Nacional’, a Rede Globo ainda criticou a postura adotada por “autoridades públicas”. A crítica foi genérica, sem mencionar o nome de ninguém. A emissora insistiu de que não sabia que a entrevistada era uma assassina quando a reportagem foi exibida na TV. “Apenas depois da exibição do quadro, o ‘Fantástico’ tomou conhecimento da gravidade do crime e só nesta terça-feira a Globo se manifesta com mais clareza sobre o assunto porque respeitou protocolos de segurança, protocolos que autoridades públicas não seguiram”. Até onde a reportagem do Portal Comunique-se sabe, a Globo nunca reclamou quando “autoridades públicas” deixam de seguir protocolos e passam informações sigilosas para equipes da emissora.
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