“Óbvio que o Executivo tem coesão e condições maiores e mais ágeis de propor. É seu dever governar. Mas o Parlamento pode ser motivo de rapidez e atraso em muitas medidas”. Em artigo, Adalberto Piotto fala de imprensa, cobertura presidencialista e atuação do Parlamento
A imprensa, na média, é presidencialista. Ignora que o Brasil, depois da Constituição de 88, se tornou um arremedo de Parlamentarismo em que deputados e senadores têm poder pra decidir, derrubar e aprovar sem serem, necessária e diretamente, responsabilizados de fato, visto que não se destituem parlamentos nesta Terra de Santa Cruz.
O verbo que usei, note, é “destituir”, não “fechar”. Daí, o foco da cobrança se concentra no Palácio do Planalto, sem olhar e criticar devidamente o côncavo e o convexo da praça dos Três Poderes.
Óbvio que o Executivo tem coesão e condições maiores e mais ágeis de propor. É seu dever governar. Mas o Parlamento pode ser motivo de rapidez e atraso em muitas medidas que nos trariam desenvolvimento econômico e bem-estar social.
E cobrar deputados e senadores dá certo. Ou você acha que o projeto de Reforma Tributária do Legislativo começou a andar por republicanismo nato. Foi pressão popular! A pecha de atraso, de remar contra o país, estava colando nos engravatados do Congresso.
Fosse o Câmara tão propositiva e preocupada com os destinos do Brasil, tivesse naturalmente este protagonismo republicano, não teria deixado caducar uma Medida Provisória básica, a do Saneamento carente no Brasil de rios e praias poluídas, de raro tratamento de esgoto, de oferta melhor mas ainda insuficiente de água tratada.
“Saneamento não comove quase ninguém. Nem no Congresso nem no país inteiro. Não comoveu a imprensa, sobretudo a crônica política engajada” (Adalberto Piotto)
Saneamento não comove quase ninguém. Nem no Congresso nem no país inteiro. Não comoveu a imprensa, sobretudo a crônica política engajada, que, fosse o contrário, o Executivo tivesse se atrapalhado, seria uma hecatombe.
Como foi “falta de acordo de líderes” vai virar um lento projeto de lei. Segue a vida do esgoto a céu aberto. O Centrão, por exemplo, que não gosta mais de ser chamado assim, virou referência de fonte política.
Assim como, inacreditavelmente, uma parte grande do mundinho da imprensa política de Brasília ficou órfã na derrota de Renan Calheiros no Senado, no início do ano. Na falta de, o Centrão se tornou o cativeiro de Estocolmo da vez para vítimas da síndrome da dependência do Brasil que tem de dar errado.
Volto ao essencial da minha crítica, além da inapetência dos brasileiros por saneamento básico: não se fecha Congresso neste país. Mantêm-se abertos a Câmara, o Senado e nossos olhos para o que fazem os três poderes. Acompanhamento diligente, com eventual pressão, costuma dar certo e é inegavelmente democrático.
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Texto publicado originalmente no Facebook do articulista-parceiro Adalberto Piotto.