Ninguém deve estar rezando tanto para o isolamento causado pelo coronavírus acabar logo do que quem já trabalhava sob o mesmo teto em que mora… com a família, principalmente quem ganha por produção, como o autônomo, porque, se já é difícil trabalhar em um ambiente sem ninguém por perto, imagine trabalhar com uma, duas, três… pessoas querendo sua atenção o tempo todo, como se pelo menos um terço das 24 horas que você tem todo dia não fosse para você tentar converter em dinheiro.
Só em pensar no estresse por que passo quando minha mulher não está no trabalho dela e meus filhos, na escola deles, já fico com saudade da última empresa para a qual trabalhei fora de casa, só ouvindo barulho quando meus colegas se esqueciam de que quem trabalha lendo ou escrevendo precisa de silêncio ou comemoravam o aniversário de alguém.
Quem não precisa de silêncio para conseguir trabalhar não sabe a dificuldade que encontro para revisar um texto ou transcrever um áudio perto de um monte de gente conversando, assistindo a tevê, brincando, brigando, fazendo todo tipo de barulho, principalmente quando parece que só quem escreveu o texto o entende ou o áudio está inaudível ou ininteligível.
Diferentemente do que minha mulher imagina, não é por não gostar de dormir que às 3 horas (Deus não ajuda quem madruga?) já estou fora da cama, principalmente quando o cliente diz que o trabalho é para ontem, fazendo-me correr feito Jack Bauer para conseguir entregar o trabalho dentro do prazo dado por ele, porque a hora em que minha família está dormindo é o único momento do dia em que consigo trabalhar sossegado.
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Mesmo que eu tivesse um espaço em minha casa para chamar de meu, não precisando pedir a meu filho que me deixe trabalhar no quarto dele, não aconselharia ninguém a trabalhar em casa com a família por perto, porque ao barulho que toda família faz, principalmente quando tem crianças, se soma outro inevitável problema enfrentado por quem, não importa por que, coloca o trabalho e a família sob o mesmo teto, as intermináveis tarefas domésticas, como deixar a pia em pratos limpos, preparar as refeições, fazer faxina e pendurar, recolher e passar as roupas, afazeres estes dos quais só está livre quem tem empregado.
Posto que, de hora em hora, sou obrigado a parar um pouco para espantar as estrelinhas e o sono, que ameaçam a qualidade de meu trabalho, nem preciso esperar minha mulher pedir minha ajuda para dar conta dos afazeres domésticos, pois fazê-los é uma forma de dar descanso não só a ela, mas a mim também.
Mas minha ajuda só dura até o relógio não me lembrar de que quem ganha por produção não pode demorar muito para voltar ao trabalho, nem todos que trabalham por conta própria podem se dar ao luxo de descansar (quem disse que as contas deixam?).
Pela cara de felicidade que minha família faz, custa-me acreditar que a pessoa que trabalha em casa com a família por perto esteja feliz com a atenção que dá a ela sem deixar aquém do esperado a quantidade e a qualidade do trabalho que ela faz para ganhar dinheiro para pagar as contas.