“O primeiro emprego um revisor nunca esquece”, afirma Edson de Oliveira. Articulista-parceiro do Portal Comunique-se, ele relembra esse momento profissional
Como já escrevi em outro texto, o primeiro emprego um revisor nunca esquece.
Não porque, antes de falir, a primeira empresa em que trabalhei me deu um cheque sem fundo (relaxe, você que sonha em se tornar revisor, levar calote também faz parte das penas deste ofício), mas porque ela abriu as portas para eu estrear nesta carreira, em 1995.
Tire as crianças da sala, porque meu primeiro emprego de revisor de texto foi f***.
No duro, não estou de sacanagem, não.
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Primeiro, porque foi revisando legendas de filmes proibidos para menores, em um escritório de tradução e legendagem de vídeo. E, segundo, porque a única experiência que eu tinha como revisor eram as correções que, a pedido, eu havia feito nas comunicações que circulavam em uma empresa em que eu havia trabalhado como auxiliar administrativo, e nos textos, inclusive meus, dos fanzines que eu havia publicado.
Quem acha que revisar a tradução de um filme pornográfico, em que só se repete uma porrada de palavrões, como “boceta”, “caralho”, “colhão”, “cu”, “foda”, “merda”, “puta”, “veado” e “xoxota”, é um trabalho que até um autodidata, ou, melhor, quem frequentou a escola só até o ensino médio, consegue fazer não sabe quantas gramáticas li, como a Gramática Metódica da Língua Portuguesa, clássico do professor Napoleão Mendes de Almeida de que me apoderei da biblioteca da escola onde concluí o ginásio, até ser chamado para fazer o teste para tentar entrar em meu primeiro emprego de revisor nem o duro danado que era pegar um ônibus na Vila Olímpia, bairro em que estava localizada a loja de conveniência em que eu passava a noite trabalhando (como atendente), um no Itaim Bibi e um na Lapa, até o Limão, onde se localizava o escritório em que eu trabalhava como revisor.
“Relaxe, você que sonha em se tornar revisor, levar calote também faz parte”. Edson de Oliveira
Mas duro mesmo era resumir em duas as três ou mais linhas que de vez em quando, por preguiça de dividir a legenda, o tradutor (ou tradutora) deixava para a revisão resumir, às vezes fazendo-me perder até meia hora, tempo que vale ouro para quem ganha por produção, só para fazer uma frase caber na tela, nem que fosse abreviando-a ou, como já disse o poeta, cortando-lhe palavras.
Comecei ganhando 2 centavos por legenda corrigida, o que significa que, se eu revisasse um filme de 500 legendas (13 laudas de 1.000 caracteres, ou 5 páginas de texto, número este que, dependendo da quantidade de falas e letreiros que foram traduzidos, varia), ganharia 10 reais, mixaria que, só em imaginar quanto hoje certos prestadores de serviços pagam por 1 minuto de áudio transcrito, nem fico com vergonha de dizer que era o que eu conseguia ganhar das 9, hora em que eu colocava o disquete no velho gerador de caracteres, que precisava ser programado toda vez que era ligado, até às 17, quando pegava o primeiro dos dois ônibus para voltar para casa, em Osasco.