Opinião

Roberto Cabrini: sucesso no jornalismo e no mercado editorial

Comunicador se destacou para além do jornalismo ao decorrer de 2019. No mercado editorial, ele lançou No Rastro da Notícia

Em entrevista exclusiva ao Portal Comunique-se, Roberto Cabrini dá detalhes de seu trabalho para a produção do livro — que já esgotou a primeira edição

O ano de 2019 foi de sucesso para Roberto Cabrini. O jornalista recebeu o título de benfeitor da humanidade, conquistou premiações, foi bem na audiência na televisão com o seu ‘Conexão Repórter’, conseguiu se destacar no campo da influência digital e… não parou por aí. No fim do ano passado, ele ainda teve tempo para transformar 10 trabalhos marcantes de décadas prestadas ao jornalismo em livro. Resultado: estreia no mercado editorial.

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Batizado de No Rastro da Notícia, o primeiro livro de Roberto Cabrini começou a ser vendido em novembro, dias após o autor se destacar na festa do “Oscar do Jornalismo Brasileiro”. O apresentador e editor-chefe do ‘Conexão Repórter’ foi eleito pela segunda vez o melhor ‘Repórter – Mídia Falada’ do Prêmio Comunique-se — sendo até hoje o único profissional de fora da Rede Globo a vencer a categoria. Com mais um troféu no currículo, ele brilhou como escritor.

Em menos de dois meses, não havia mais rastro do livro nas lojas de todo o país. Isso porque a primeira edição, com 8 mil exemplares, de No Rastro da Notícia se esgotou. Fato que fez com que a Editora Planeta providenciasse a segunda remessa já para este início de 2020. O sucesso de público e crítica no mercado editorial chegou a assustar o autor de primeira viagem. “Fiquei encantado com a identificação e a inspiração que o livro tem provocado nas pessoas”, conta Roberto Cabrini em entrevista exclusiva ao Portal Comunique-se.

Como a expertise de quem entende de bastidores do jornalismo investigativo, Roberto Cabrini dá detalhes de como foi o trabalho de produção do livro. Também explica como No Rastro da Notícia pode ajudar na formação de novos profissionais da imprensa.

Leia, abaixo, a íntegra da entrevista com Roberto Cabrini, destaque do jornalismo brasileiro em 2019 e autor do livro No Rastro da Notícia:

TRABALHO DE PRODUÇÃO DO LIVRO

Repórter premiado, quando surgiu a ideia de entrar para o mercado editorial e produzir um livro contando os bastidores de reportagens marcantes?

Sempre fui apaixonado pelo ato de escrever histórias, compartilhar relatos e pensamentos. Quando surgiu o convite de uma editora bem estruturada como a Planeta, aceitei na hora. Queria, entretanto, que fosse um livro denso e profundo. Que fizesse o leitor se sentir junto comigo nas encruzilhadas da profissão por meio de uma escrita envolvente e prazerosa, que estabelecesse cumplicidade com público, mostrando o que jamais havia contado e gerando reflexões sobre nosso ofício.

Quais foram os fatores para definir quais as reportagens investigativas que mereceriam ser contadas no livro?

Essa foi a parte mais difícil. Não o que ia entrar, mas ter de abrir mão do que acabou ficando de fora. Procurei, em primeiro lugar, as histórias ganhadoras de prêmios e que marcaram época. Mas tinham trazer uma diversidade de situações para maximizar o alcance das situações que vivi. Assim, o livro traz bastidores de coberturas de guerra com todos seus desafios psicológicos, físicos e logísticos. Apresenta grandes investigações, como a descoberta de uma rede de pedofilia na Igreja Católica brasileira, que repercutiu em todo mundo e fez com que pela primeira vez o próprio Vaticano reconhecesse a ocorrência desses abusos no país, com todas as pressões que a investigação acarretou.

[No Rastro da Notícia também traz] o passo a passo da descoberta de fugitivos da Justiça, a experiência de termos sido sequestrado pelas Farc na Colômbia, o jogo mental de entrevistar alguém tão manipulador como Fernandinho Beira Mar, a convivência com Ayrton Senna, a descrição detalhada daquele fim de semana de maio de 1994, e toda investigação sobre o acidente que fiz nos meses seguintes. Há, ainda, espaço para furos internacionais, como a célebre entrevista com Ben Johnson e seu treinador Charles Francis no Canadá sobre o rumoroso caso se doping na Olimpíada de 88. Também conto os bastidores da investigação sobre o acidente do voo 254 que se perdeu na Floresta Amazônica por uma série de fatores que estavam ocultos e a incrível história de uma mulher iluminada confrontada com a proximidade da morte.
Jornalista acompanhou de perto a trajetória de Ayrton Senna. (Imagem: acervo pessoal de RC)

Todo esse trabalho de “traduzir” as coberturas em livro deve ter sido cansativo…

Percorri muitos terrenos de nossos desafios. Sempre tratando de humanizar os relatos, compartilhando os momentos de adrenalina, pressão, hesitação, convicção, derrotas e conquistas. De forma a ser o repórter um fio condutor sem ser mais importante do que as próprias histórias. Terminava cada capítulo exaurido pelas emoções à flor da pele que revivi sob una perspectiva diferente. Permiti-me a um exame visceral da alma, trazendo à luz fatos e sensações que antes não havia me dado conta. E aproveitando tudo para discutir princípios e até contradições da profissão. No final do dia, somos contadores de histórias de nosso tempo, com tudo que isso acarreta.

Tendo de conciliar a produção do livro com o trabalho no SBT, como repórter e editor-chefe do ‘Conexão Repórter’, quanto tempo foi preciso para chegar à versão final da obra?

Foram quatro anos escrevendo. O ato de escrever era rápido. Levava uma ou duas semanas mas para que o livro ficasse intenso. Eu precisava encontrar janelas em minha agenda para uma viagem profunda em cada história. De forma a impedir que as coberturas de minha vida de editor-chefe do ‘Conexão Repórter’ não interferissem no processo de mergulhar profundamente em outros tempos, muitas vezes outros países, civilizações e dilemas. Fui muito rigoroso com essa entrega.

São mais de 30 anos de dedicação ao jornalismo investigativo. Quais reportagens icônicas ficaram de fora de No Rastro da Notícia? Há possibilidade de o público contar com um segundo volume?

Sim, existe essa possibilidade. Até porque fiquei encantado com a identificação e a inspiração que No Rastro da Notícia tem provocado nas pessoas. Tenho vários projetos para novos livros. Não só a continuação de No Rastro da Notícia“, mas também relatos monotemáticos usando outras técnicas. Amo escrever e me comunicar dessa forma com o público. Sou um contador de histórias.

O que representa para o público e para colegas de imprensa o seu livro contar com textos de Caco Barcelos e Ana Paula Padrão?

Significa muito pra mim. São colegas e amigos absolutamente brilhantes. Cada um em seu estilo. Ter a possibilidade da perspectiva de gênios como eles em meu livro foi um dos momentos mais gratificantes de minha trajetória.

(Imagem: reprodução/Editora Planeta)

NAS LIVRARIAS (E NAS FACULDADES)

Nos últimos meses, você viajou o Brasil para promover sessões de autógrafos de No Rastro da Notícia. Já foram quantos eventos em quantas e quais livrarias Brasil afora?

Já foram cerca de 15 eventos por todo país. Em geral, na livraria Saraiva e também em universidades. Ainda temos uma extensa agenda a cumprir, pois a quantidade de convites tem sido impressionante. Não imaginava tanta demanda. Tem sido muito gratificante!

Você reforçou o interesse de se aproximar — e aproximar a sua obra — de estudantes de jornalismo. Como tem sido essa missão? Já esteve em quais faculdades para falar do seu trabalho e do seu livro?

Procurei privilegiar os lançamentos em faculdades de comunicação. Vejo como uma de minhas mais importantes missões estimular o jornalismo de alto nível entre os os jovens. Isso em um momento de grandes transformações no jeito de exercer a profissão Há uma revolução tecnológica, em que máquina já escrevem textos e empregos têm desaparecido, trazendo a necessidade de adaptação aos profissionais.

Procuro mostrar sempre que, mesmo com tantas e rápidas mudanças no mercado, eternamente vai haver espaço para aqueles que contarem as histórias humanas de nossas aflições e buscas. Aquelas histórias que jamais serão contadas por máquinas. Os estudantes e jovens jornalistas, com seus constantes pedidos, foram uma das razões de eu ter escrito No Rastro da Notícia. Gente é nossa matéria-prima. E estar em permanente conexão com seres humanos e suas inquietações é o que me move.

Repórter de guerra. (Imagem: acervo pessoal de RC)

Da parte dos estudantes, quais têm sido as reações em relação ao livro? Acredita que No Rastro da Notícia tem ajudado no despertar de interesse de futuros jornalistas por grandes reportagens?

As reações têm sido tocantes e inspiradoras. O livro mexe com com o imaginário das pessoas, mostrando o quanto é importante superar barreiras do preconceito e de interesses econômicos para estimular debate na sociedade fugindo de dogmas e do maniqueísmo cultural. Sinto nessa nova geração uma enorme disposição de participar desse momento do país, onde o jornalismo tem sido contaminado muitas vezes pela partidarização e pela polarização da discussão política.

É preciso se libertar das amarras que nos aprisionam. E essa é, no fundo, a essência da procura pelas boas histórias. Jornalismo não pode ser um ato de convencimento, onde o repórter procura fazer com que o público pense como ele. O jornalismo é o ato nobre de prover informações e ângulos diversos para que a sociedade tome decisões mais sábias, mesmo que eventualmente essas escolhas contrariem o pensamento do profissional.

Repórter premiado, como tem sido acompanhar o sucesso no mercado editorial de seu primeiro livro? A Editora Planeta já teve que preparar a segunda edição, certo?

A primeira tiragem foi de 8 mil exemplares e em três semanas a Editora Planeta sentiu a necessidade de providenciar a segunda. O sucesso de crítica e de vendas demonstra que havia demanda por uma obra que pudesse canalizar as imensas possibilidade de fazer a sociedade avançar por meio do ato de contar grandes histórias. Isso em um momento conturbado do país e da profissão, onde em parte nossos princípios profissionais mais importantes foram bombardeados por uma epidemia de interesses obscuros que desvirtuam os objetivos primordiais de um ofício tão essencial em uma democracia. No Rastro da Notícia propõe uma retomada de nossa vocação e de nossa missão.

Livro publicado, vitória no Prêmio Comunique-se, ‘Conexão Repórter’ indo bem na audiência… Qual o resumo do seu ano de 2019 nos quesitos profissionais?

Um ano mágico! De descobertas de novos caminhos, onde conquistas apenas indicam que tudo, afinal, vale a pena.

Comunicador em momento “glamour”. Indo atrás da notícia até embaixo da terra. (Imagem: acervo pessoal de RC)
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Anderson Scardoelli

Jornalista "nativo digital" e especializado em SEO. Natural de São Caetano do Sul (SP) e criado em Sapopemba, distrito da zona lesta da capital paulista. Formado em jornalismo pela Universidade Nove de Julho (Uninove) e com especialização em jornalismo digital pela ESPM. Trabalhou de forma ininterrupta no Grupo Comunique-se durante 11 anos, período em que foi de estagiário de pesquisa a editor sênior. Em maio de 2020, deixou a empresa para ser repórter do site da Revista Oeste. Após dez meses fora, voltou ao Comunique-se como editor-chefe, cargo que ocupou até abril de 2022.

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