Fim do segundo semestre de 2018. Jordânia Bissolli se torna, oficialmente, mais uma jornalista brasileira. Para conquistar tal título, ela se aprofundou em um caso que, em meio à ditadura militar que fora enfrentada pelo país, chocou a imprensa e todo o país. Para completar com êxito à graduação em comunicação social pela Universidade Nove de Julho (Uninove) — alma mater deste redator –, foi atrás da história em volta da morte de Vladimir Herzog. Como todo e bom Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) pede um recorte, ela dedicou sua pesquisa à cobertura feita por três jornais. Analisou, assim, como Folha de S. Paulo, Jornal Unidade e O Estado de S. Paulo noticiaram o assunto.
Já com status de bacharel em jornalismo, Jordânia Bissolli conta o que a motivou a pesquisar o assunto relacionado ao assassinato de Vladimir Herzog, que aconteceu em outubro de 1975. “Um marco na história do jornalismo”, pontua. Jornalismo que, conforme analisou, não foi praticado com imparcialidade pela Folha de S. Paulo no caso. “Fontes foram pautadas com destaque à nota do II Exército e ao laudo que constatava suicídio”, comenta, tendo como base o que acompanhou para o desenvolvimento de seu TCC. Mas como ela própria noticiaria a morte de Vlado? Essas e outras respostas foram registradas em entrevista à reportagem do Portal Comunique-se. Confira abaixo:
Por que fazer um TCC sobre a cobertura da morte do jornalista Vladimir Herzog?
Por entender que o caso da morte do jornalista Vladimir Herzog foi um um acontecimento noticioso ligado a fatos políticos, um marco na história do jornalismo, além da importância de analisar os principais jornais do país, como Unidade do Sindicato dos Jornalistas, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, na forma em que cada um cobriu o caso. [O episódio] ocorreu em um dos períodos mais sangrentos da história do Brasil, a ditadura militar. Nos dias atuais, o tema da minha pesquisa está muito presente no cenário político do Brasil. O país se divide entre a situação de extrema direita, sob o comando dos militares governo, e a oposição de extrema esquerda, com alinhamento de ideais comunistas.
Como o seu trabalho de pesquisa definiu os três jornais a serem analisados?
A definição dos veículos de comunicação – os jornais Unidade do Sindicato dos Jornalistas, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo – foi sugestão do meu orientador de TCC, o mestre Renato Vaisbih.
Durante a pesquisa o que mais te chamou atenção entre esses três jornais? Quais os principais pontos de diferença no noticiário sobre Vlado?
O que mais me chamou a atenção foi O Estado de S. Paulo. O jornal foi imparcial na cobertura da morte de Vladimir Herzog. Ouviu todos os lados da história. Deu espaço para a nota do II Exército e ouviu o Sindicato dos Jornalistas, Dom Evaristo Arns, Audálio Dantas e Clarice, viúva de Vlado. Ao contrário, a Folha de S. Paulo estava mais alinhada com os militares. Apesar de relatar o que diziam os companheiros de prisão do jornalista (Rodolfo Konder, Jorge Benigno e Jatahy Duque), suas fontes foram pautadas com destaque à nota do II Exército e ao laudo que constatava suicídio.
Representante da classe de comunicadores, por meio do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, o Jornal Unidade se preocupou em esclarecer os fatos. Porém, foi “censurado”. Além de amparar a família, a publicação se posicionou em ouvir fontes ligadas a diversos órgãos sindicais e instituições acadêmicas, envolvendo na pauta professores e estudantes.
Agora, com o TCC finalizado e aprovado, vale saber: se fosse editora de jornal, como você noticiaria a morte de Vladimir Herzog?Como editora, eu noticiaria com imparcialidade a morte de Vladimir Herzog. Minha reportagem estaria pautada em entrevistas de fontes e coletas de dados mais aprofundadas. Desenvolveria uma investigação bem apurada, na qual pudesse me aproximar da verdade dos fatos. Relataria desde as perseguições políticas, ameaças até o dia do assassinato. “Opressão, repressão, tortura e morte. O preço que o jornalista e ativista politico Vladimir Herzog pagou para defender seus ideais e a liberdade imprensa” seria uma possível chamada para a matéria.
Muitos políticos brasileiros vivem criticando — e até ameaçando — jornalistas. Há quem ainda assassine comunicadores. Como você vê essa situação? O que pode ser feito para dar segurança e tranquilidade a esses profissionais?
A tirania dos poderosos, aqueles de perfil de instinto “assassino”, tem que ser denunciada às autoridades competentes e condenada pela Justiça. Só assim para que se dê um pouco de segurança e tranquilidade aos jornalistas no exercício de suas atividades. Vejo como afronta à democracia os desmandos de políticos que se utilizam do poder para intimidar comunicadores. E isso ocorre das mais variadas formas. Desde o tráfico de influência dentro das redações até as ameaças de morte. Considero esses seres como os “terroristas da liberdade de imprensa”.
O enfrentamento da tirania dos poderosos contra colegas de imprensa já vem acontecendo. Instituições e órgãos sindicais vêm debatendo a respeito. Tenho acompanhado manifestações e indignações da classe, por meio das redes sociais. Há reportagem produzidas e divulgadas por sites como do Instituto Vladimir Herzog, Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, Portal Comunique-se e Abraji. É necessário que também ocorra debates e mobilização no campo acadêmico, com atuação de professores e estudantes.
Seu TCC já foi destacado pelo Instituto Vladimir Herzog. Há projeto para que esse trabalho se torne um livro?
Por enquanto, penso apenas em levar a pesquisa para o campus da pós graduação, pretendo fazer “Ciência Politica”. Não havia pensado em escrever um livro sobre, mas gostei da pergunta que aceito como sugestão. Quem sabe num futuro próximo eu venha a falar a respeito dos desafios e conquistas do TCC, que pode ser tornar gratificante na vida do estudante. A principio, porém, estou orgulhosa de ter feito um Trabalho de Conclusão de Curso bem feito e que seja referência.
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