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Infoxicação: os riscos causados pelo excesso de informação na internet

Infoxicação: os riscos causados pelo excesso de informação na internet
Imagem: iStock
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Mais de 2,2 milhões de terabytes de novos dados são gerados todos os dias no mundo todo. Notícias, posts nas redes sociais, vídeos, e-mails, mensagens instantâneas. Estamos tão inseridos no dinamismo de tanta tecnologia, disparando informação, simultaneamente, que muitas vezes nem percebemos o quanto isso pode nos sobrecarregar.

Não se assuste ao saber que já existe — há algum tempo, inclusive — um termo para isso: infoxicação.

Trata-se da junção de duas palavras — informação e intoxicação —, que basicamente se traduz no volume de informação superior à nossa capacidade de processá-la.

Já em 1996, o físico espanhol Alfons Cornellá destacou os perigos de não saber lidar com a quantidade massiva de dados que recebemos de tantas fontes ao mesmo tempo. Não à toa, estamos mais ansiosos porque nem digerimos uma notícia e muitas vezes já temos à nossa disposição dados complementares ou mesmo conflitantes ao que acabamos de ler.

Paralelamente, existe a linha de pensamento do psicólogo britânico David Lewis. Infoxicação, para ele, também atende pelo nome de Síndrome da Fadiga Informativa, que causa uma espécie de “sensação de paralisia e impotência” para processarmos tantos dados, prejudicando nossa capacidade analítica.

De um jeito menos teórico e mais prático, eles estão falando de casos que temos visto ao nosso redor nos últimos meses. Você possivelmente conheceu uma pessoa (ou várias) que disse não ligar a TV desde março, quando a pandemia começou. Com ela, veio a enxurrada de informações da mídia, cobertura intensa e, principalmente, as redes sociais. Nelas, as narrativas políticas, as previsões nunca confirmadas, o agravamento da polarização, a gritaria, a histeria. Tudo isso gera dados e informação que contribuem para a infoxicação.

A quantidade de dados circulando na internet corresponde à leitura de 174 jornais por dia, por pessoa — de acordo com um estudo da USC Annenberg School for Communication & Journalism. Se, alguns anos atrás, a transformação digital nos posicionava na Era da Informação, agora entendemos que o excesso pode não ser tão benéfico quanto se imaginava.

Fica evidente que, sem o devido controle e algumas técnicas para evitar a infoxicação, vem a necessidade meio descontrolada de estarmos informados o tempo inteiro. Resultado: nunca nos sentimos plenamente satisfeitos. Isso tem os seus riscos, diz o estudo, como:

  • O aumento nos casos de ansiedade e depressão — especialmente, durante os meses de isolamento social em decorrência da pandemia do Covid-19;
  • A sensação de constante falta de conhecimento, dando início a um ciclo pela busca por mais informação;
  • As dificuldades na capacidade analítica e na tomada de decisão;
  • A hiperconectividade, que é o desejo de sempre estar on-line (e a aflição de ficar offline mesmo que por curtos períodos);
  • A dispersão, que ocasiona a perda de foco com rapidez e frequência;
  • A perda do foco rapidamente enquanto lê notícias;
  • A dificuldade de concentração;
  • O estresse.

Como evitar a infoxicação?

Existem duas respostas para esta pergunta.

A primeira é endereçada ao produtor de conteúdo, e isso inclui o jornalista. Só que não há uma resposta que se esgote em um texto. Talvez precisasse de um livro inteiro para ela. Mas uma síntese decente mas pouco prática talvez seja esta: trata-se de um trabalho de longo prazo de formação de público. Você precisa ser a fonte de confiança do seu leitor, e confiança não se constrói da noite para o dia.

A segunda é endereçada ao leitor — e você, como profissional de comunicação, nunca deixa de ser um, seja para os assuntos ligados à sua atividade, seja para os de interesse pessoal.

Algumas boas práticas podem ajudar a se desintoxicar do excesso agressivo de dados que nos alcança a todo momento.

#1 Cheque a veracidade das informações

Um dos grandes vilões da informação, atualmente, é o disparo de fake news. Em 2018, o Brasil era o terceiro no ranking global de países que mais consumiam e compartilhavam essas informações falsas.

Com isso, a infoxicação contamina mais pessoas e com ainda mais rapidez, tendo em vista que são, no geral, notícias de grande alarde, consequências graves e pautadas em mentiras e em manipulações de fatos.

Por isso, consuma informação das redes sociais com parcimônia.

#2 Escolha com cuidado as suas fontes de informação

Em complemento ao tópico anterior, valorize o tempo que você investe na internet — seja em sites de notícias, nas redes sociais ou para buscar informações para o seu lazer, conhecimento ou mesmo para o trabalho. Não se limite às mesmas páginas — afinal, a internet está aí para democratizar a informação —, mas escolha com cuidado os locais onde você vai se informar.

#3 Compare as informações consumidas

Questione os dados que você encontra. Seria algo parecido com obter uma segunda opinião de um médico sobre determinado sintoma que temos. Como resultado, você pode evitar dois problemas: o consumo de fake news e também o consumo de informações incompletas ou superficiais. Pois elas também criam a sensação de que precisamos de mais dados para nos manter informados.

#4 Limite o seu tempo de checagem das notícias

Monitore o tempo que você gasta na internet à caça de notícias. Acredite: o excesso não traz muitos benefícios. Especialmente porque você sempre vai encontrar mais de uma novidade a cada segundo.

Portanto, vale a pena criar um limite para que você se discipline e compreenda quando é o momento certo para se atualizar e também quando a atividade já é o suficiente — ao menos, por aquele momento.

Com isso, fica fácil evitar a infoxicação e os seus sintomas decorrentes. O que se revela em uma relação mais sadia e qualitativa com os grandes e verdadeiros benefícios da era digital.

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Cassio Politi

Já foi editor e diretor de conteúdo do Comunique-se, além de ombudsman do Portal. Atualmente, dirige os cursos do C-se e é o responsável pelo Podcast-se, que figura entre os top-10 podcasts de marketing do País de acordo com o Chartable. Escreveu o primeiro livro em português sobre content marketing. Em 2015, foi eleito pela Digitalks o profissional do ano em content marketing no Brasil. É, desde 2014, o único brasileiro a compor o seleto júri do Content Marketing Awards, o principal prêmio do mundo na categoria. Por sua empresa, a Tracto, presta consultoria ou produz conteúdo para empresas de variados portes no Brasil e na América Latina, incluindo multinacionais. Apresentou alguns de seus cases em eventos nos Estados Unidos. Está no Hall da Fama do Content Marketing World, em Cleveland, do qual participa anualmente desde 2012.

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