Site jornalístico criado por Diego Escosteguy sofre com passaralho dois meses após entrar no ar
Pelas redes sociais, profissionais reclamam — entre outros pontos — de promessas que não teriam sido cumpridas
Com demissões, jornalistas e veículos começam a questionar quem seriam os investidores secretos do projeto
Situação faz com que sindicato se coloque à disposição de quem foi dispensado da redação do Vortex Media
No ar de forma oficial desde 8 de outubro, o Vortex Media não chegou a completar dois meses sem passaralho. Desde 6 de dezembro, o site jornalístico idealizado e conduzido por Diego Escosteguy sofre com baixas. Fora os dispensados, a redação tem sido reduzida ainda mais nos últimos dias. Em meio a indefinições, profissionais estão resolvendo deixar o projeto por vontade própria. Por mais que oficialmente os responsáveis neguem, a movimentação já afetou bem mais que a metade da redação — que estreou na imprensa brasileira com 30 colaboradores.
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Primeiramente, as demissões do Vortex Media atingiram em cheio a parte de dados. A equipe inteira foi dispensada e a editoria, descontinuada. Editor da área, Sergio Spagnuolo usou o Twitter para expor a situação. Conforme informou, ele e mais 10 colegas que formavam o escritório do projeto em São Paulo foram dispensados. Na mesma ocasião, conforme apurou a reportagem do Portal Comunique-se, o repórter de justiça Guilherme Mendes (ex-Estadão e Jota), que ficava na sede do site em Brasília, também foi demitido. O mesmo ocorreu com a analista de marketing Débora Fraga.
Os dias se seguiram com mais gente deixando o site criado por Diego Escosteguy. O editor de comunidades, Alexandre Orrico, e a editora de audiência, Daniela Flor, resolveram, em meio aos cortes, deixar o projeto. “Quis 2019 que meu ano começasse e terminasse com passaralho. Embora eu não tenha sido exatamente demitido do Vortex, tornou-se impossível continuar. Optei por sair após a destruição do escritório aqui em SP”, publicou ele, que meses antes havia sido demitido do BuzzFeed. Ela, por sua vez, definiu a situação como “decisão própria, mas inevitável”.
Sexta-feira, dia 6/12, 11 jornalistas em SP foram demitidos do Vortex, uma nova “promessa” do jornalismo brasileiro. O dono, Diego Escosteguy, sequer se dignificou a me telefonar. Entrei no projeto em maio, larguei minha empresa e uma bolsa de consultoria com boa remuneração.
— Sérgio Spagnuolo (@sergiospagnuolo) December 7, 2019
Mais baixas
Com as demissões, o expediente já foi excluído do site. Apesar de ter estreado com a promessa de ser transparente e apostar na interação com o leitor, o público do site não sabe — no momento — quem são os jornalistas que seguem na equipe do Vortex Media. Desde a última semana, a página ‘Quem Somos’ foi desativada. Além dos nomes já mencionados nesta reportagem, o projeto perdeu os trabalhos de pelo menos outros 12 profissionais até o último fim de semana: Larissa Rodrigues, Ana Viriato, Rodolfo Almeida, Gabriela Sá Pessoa, Lucas Lago, Mayra Sartorato, Renata Hirota, Teo Cury, Helena Mader, Matheus Teixeira, André Spigariol e Márcio Falcão.
Experiente na cobertura dos bastidores do poder, Wilson Lima se tornou nesta segunda-feira, 16, mais um a deixar o Vortex Media. Tendo passagens por veículos como IstoÉ, SBT e iG, ele aproveitou o momento para deixar claro que, assim como trabalhadores de outros setores, jornalistas precisam “rebolar” para pagar as contas. “Ao contrário do que muitos pensam, somos pessoas comuns. Temos boletos para pagar e repercussão não aumenta conta bancária. Banco não quer saber se sua matéria saiu na TV ou foi citada pela grande imprensa”, afirmou o repórter, que salientou: está disponível para “jobs, freelas e afins”.
Estabilidade?
Assim como Wilson Lima, os demais demitidos (ou que pediram demissão) do projeto criado por Diego Escosteguy estão em busca de outras atividades na comunicação. Um dos dispensados, Sergio Spagnuolo destacou que foi convencido a integrar o time do Vortex Media em meio à promessa de três anos de garantia de financiamento. Tal afirmação foi reforçada por dois colegas. Daniel Mariani e Rodrigo Menegat, que atuam com dados na Folha de S. Paulo e no Estadão, respectivamente, garantiram que ouviram a mesma promessa. Os dois, entretanto, não aceitaram apostar no Vortex Media (e hoje estão devidamente empregados).
Em vez da prometida estabilidade, demissões. E não para por aí. Segundo Sergio Spagnuolo, havia, ainda, a promessa de se trabalhar num sistema de “PJ Humanizado”, com direitos trabalhistas como plano de saúde e décimo terceiro salário. Na prática, de acordo com denúncia pública feita pelo jornalista, o que ocorreu foi atraso do pagamento. “A sacanagem foi tamanha que, sabendo da situação, fizeram a gente vir trabalhar durante um mês, incluindo feriado do dia 15/11, já cientes que os pagamentos do mês não estariam garantidos. Não falaram nada pra gente, viemos trabalhar de graça”, criticou o comunicador, que, fora do Vortex Media, voltará as suas atenções à agência Volt Data Lab.
“PJ Humanizado”
A questão do “PJ Humanizado” foi ironizada por outra pessoa que deixou o Vortex Media nos últimos dias. De forma até debochada, Mayra Sartorato lembrou que em plena época natalina está sem emprego. “A vida de desempregada / sem receber rescisão / nem salário / nem o 13o do ‘PJ humanizado’ envolve tanto perrengue que até a maçã do salpicão eu vou comer no Natal de bom grado (e repetir o prato). Evitem que fique grave e eu tolere uva passa também: mandem jobs. #pas”. Débora Fraga, por sua vez, divulgou uma mensagem que pode ser considerada como indireta a Diego Escosteguy. “Empresário é engraçado né? Tem dívida (com os funcionários) e não paga. Mas anda de carrão, compra passagem de última hora, mantém aluguel”, ponderou.
Apoio sindical
Ciente das denúncias em torno do não pagamento de “salários e demais benefícios acordados” aos funcionários e ex-funcionários do Vortex Media, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal se posicionou. A instituição se colocou ao lado dos profissionais que chegaram a abandonar outros empregos na mídia para acreditar no projeto liderado por Diego Escosteguy. “A entidade se solidariza com os e as colegas, tanto de Brasília quanto de São Paulo, e coloca seu departamento jurídico à disposição dos profissionais baseados no DF. Informa ainda que já solicitou esclarecimentos à empresa acerca da denúncia para encaminhar as medidas cabíveis”, pontuou o sindicato.
Projeto ligado a Eduardo Cunha?
Apesar de reforçar a ideia de ser transparente com o leitor, mostrando como determinada reportagem foi produzida, o Vortex Media convive com investidores secretos desde sempre. Na semana que antecedeu a estreia do site, Diego Escosteguy respondeu a perguntas do Portal Comunique-se (o que não ocorreu agora, em meio às demissões). Na ocasião, ele afirmou que estava bancando o estágio de pré-lançamento, mas que contava com o aporte de “alguns investidores institucionais de Nova York”. Os nomes? O criador do site disse que não poderia revelá-los por causa de “questões contratuais”.
Ao noticiar as demissões do Vortex Media, o Jornal GGN, que é editado por Luis Nassif, sugeriu que os investidores secretos podem não ser de Nova York, conforme alardeou Diego Escosteguy. De acordo com o Jornal GGN, o novo veículo de comunicação online poderia estar sendo bancado por pessoas ligadas a Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados.
Até o momento, ninguém do Vortex Media se posicionou a respeito do assunto divulgado pelo Jornal GGN
Desde a sua estreia, o Vortex Media não aceita veicular ações publicitárias ligadas a órgãos estatais. “Num país como o Brasil, e em especial neste momento, o dinheiro dos contribuintes precisa ser investido em coisas mais urgentes e essenciais para os cidadãos”, disse Diego Escosteguy, ao Portal Comunique-se, na ocasião do lançamento do Vortex Media, projeto que se vê em meio a demissões, promessas não cumpridas e investidores secretos.