A distribuição de verbas publicitárias do governo federal segue critérios estritamente técnicos, sem viés ideológico nem preconceito. Foi o que garantiu o secretário de Comunicação Social da Presidência da República, Fabio Wajngarten, durante audiência da Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor (CTFC). O evento foi realizado na manhã de terça-feira, 28.
“O presidente Bolsonaro deu à Secom [Secretaria Especial de Comunicação Social] liberdade total para trabalhar tecnicamente. O governo tem de falar com todo mundo e investir em todo mundo. Nós não trabalhamos com nenhum preconceito e viés”, afirmou Wajngarten.
Ele esteve no Senado a convite da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) para falar sobre o funcionamento da pasta, que em 2019 tem orçamento de R$ 150 milhões, sendo que R$ 42 milhões já foram contingenciados. De acordo com Wajngarten, esse orçamento representa um terço do que a pasta tinha há cerca de dois anos. Mesmo assim, ele acredita ser possível trabalhar fazendo “investimentos responsáveis que certamente vão dar retorno multiplicado em cima de cada real investido”.
Oriundo do mercado paulista privado de publicidade e pesquisa de mídia, Fabio Wajngarten chegou há pouco tempo na Secom — mais precisamente, há 46 dias — e instalou um sistema parecido com o que rege a publicidade na iniciativa privada: investimentos racionalizados e negociação do volume de mídia de maneira única, o que, nos cálculos dele, deve baratear em R$ 450 milhões ou até R$ 550 milhões os anúncios publicitários feitos pelo governo.
Wajngarten também contou que o cadastro dos meios de comunicação está sendo retomado, para dar mais transparência sobre os investimentos na área. Apesar disso, afirmou, o mercado de publicidade continua altamente concentrado quando se leva em conta a audiência como critério para definir quais veículos levam quanto.
“A emissora líder no mercado tem 35% dos aparelhos de TV ligados nela. O sistema publicitário precisa de uma repactuação de mercado, porque dados como esse contribuem para a concentração das verbas. E é lamentável ver importantes grupos de comunicação fechando as portas ou em endividamento alto, como a Editora Abril, a Rede TV e o grupo Bandeirantes, além de inúmeros jornais que estão quebrando”.
Wajngarten dedicou parte da sua apresentação à comunicação regional, que afirma ser “imprescindível” para dar transparência e informação à população que não está nos grandes centros, onde a internet é mais rápida e disseminada. Também falou da importância de investir em rádios comunitárias e nos 4 mil veículos do Nordeste, em redes segmentadas, como os canais ligados ao agronegócio ou religiosos, por exemplo.
A distribuição das verbas publicitárias do governo, segundo Wajngarten, ainda é liderada pelas emissoras de TV, que recebem 60,41% do montante, seguidas dos sites e canais em internet, que levam 14,35%. Mídia exterior (outdoors e busdoors, por exemplo) fica com 8,93% da verba, na frente das rádios (6,42%) e dos jornais (5,99%). Revistas (3,54%) e cinema (0,35%) são os meios que menos recebem a publicidade governamental.
Desde o início do governo, a maior campanha publicitária foi voltada à nova previdência, que levou R$ 37 milhões distribuídos entre 11 veículos de internet, 47 de mídia exterior, 73 de mídia exterior digital, 1.771 rádios, 8 revistas e 359 emissoras de TV, somando 2.269 veículos. O resultado desse investimento, afirmou o senador Major Olímpio (PLS-SP), foi percebido na Avenida Paulista no domingo, 26, durante a manifestação popular.
“Conversei com muita gente na rua e ficou muito clara a consciência espontânea das pessoas sobre a necessidade da reforma da Previdência, que não é uma pauta simpática, mas necessária”, contou Major Olimpio.
Wajngarten concordou que a manifestação espontânea pela reforma é o retorno do investimento e do empenho do próprio presidente em explicar sobre a proposta em diversos meios de comunicação. Na avaliação dele, a cobertura do evento, pela imprensa, foi “na medida” certa.
O secretário contou que os fundamentos da Secom sob sua direção são: comunicação direta com o cidadão, interesse social da comunicação (mostrar o impacto das medidas do governo para a população), mídia técnica (equilíbrio dos investimentos e comunicação eficiente e eficaz pelo mix dos meios, considerando a importância de todos) e comunicação integrada com uso de ferramentas para potencializar os efeitos da comunicação governamental.
“Estamos trabalhando numa comunicação responsável para que o cidadão busque nas fontes do governo a informação primária, para minimizar os efeitos de fake news e para trazer atratividade dos empreendimentos, que é o que o Brasil mais precisa”.
Questionado por Eliziane Gama sobre uma suposta guerra entre aliados a Olavo de Carvalho e militares na área da comunicação, o secretário disse que nunca houve disputa no controle de verbas publicitárias. A senadora também perguntou ao secretário sobre o futuro da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC, antiga Radiobrás).
“Estamos estudando como fazer a EBC mais moderna e adequada à evolução tecnológica e competitiva para otimizar o horário público, e a cobertura do presidente dentro dos limites de gastos praticados no mercado”, disse Wajngarten.
Sobre as redes sociais, Eliziane reclamou que a conta pessoal do Twitter de Bolsonaro parece se misturar com a conta dele como presidente, e que postagens de cunho pessoal — como aquelas referentes a golden shower, à jornalista Constança Rezende e ao golpe militar de 1964 — poderiam enfraquecer a Presidência, com efeitos na bolsa e no dólar. Ela também quis saber até onde os filhos do presidente controlam a presença do pai nas redes.
“Não percebo a ingerência dos filhos nas contas digitais. Mas a conta Jair M. Bolsonaro no Twitter é do presidente e ele tem a senha”, respondeu o secretário.
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