“Além disso, tem as polpudas verbas publicitárias para convencer veículos ao seu favor”. Mestre do Jornalismo, Heródoto Barbeiro escreve sobre um político brasileiro
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Fica claro o embate entre o governador e o presidente. A relação política entre os dois durou muito pouco tempo. Para ser exato, um ano e meio. A aliança política que possibilitou a ascensão do presidente é um castelo de areia branca, e o governador não hesita em chutar toda vez que se vê diante da mídia. É uma guerra que se disputa diante da opinião pública e o bom senso. Ou: os interesses nacionais são postos de lado.
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O que vale mesmo é a conquista do poder. O governo federal se vê às voltas com o fortalecimento dos estados e lembra o período da “república velha”, quando São Paulo e Minas Gerais ditavam como o Brasil deveria ser conduzido. Sempre a favor de uma camada privilegiada da população. Os miseráveis servem de massa de manobra ora de um, ora de outro. E eles torcem por seus ídolos com o mesmo fervor que torcem para os seus times de futebol do coração.
O chefe do Executivo federal avisou várias vezes o governador que ele tem a caneta na mão e pode decidir muita coisa. Por sua vez, o governador paulista se escora na mídia, nos industriais e nos partidos nanicos enfileirados e lubrificados com verbas na Assembleia Legislativa. Quem pode mais chora menos. O governador se apresenta como um homem religioso. É fotografado em missas, sempre de paletó e gravata e não abandona o ritual do cargo jamais. Anda sempre cercado por policiais e sua confortável mansão tem sempre uma viatura para proteger a primeira-dama e os seus filhos. Nada tem a temer.
“O governador não hesita em chutar [o presidente] toda vez que se vê diante da mídia”. Heródoto Barbeiro sobre a relação de dois políticos do país
Construiu um bom empreendimento industrial, tem participação societária em várias empresas, até mesmo na televisão. Além disso, tem as polpudas verbas publicitárias para convencer veículos ao seu favor. É verdade que nem todos. Um grupo jornalístico faz-lhe oposição cerrada e divulga em seus editoriais coisas desabonadoras a respeito do chefe do Executivo paulista. Usa adjetivos pesados e não esquece sua origem e como amealhou a grande fortuna que possui.
O presidente tem o apoio dos militares. Ele foi guindado ao posto para combater a corrupção e inviabilizar a transformação em um país comunista como Cuba. Pelo menos é isso que diz sempre que tem oportunidade de juntar apoiadores no palácio presidencial. Não raro, deixa-se fotografar cercado pelas mais altas patentes do exército. A crise chega a um ponto insuportável. O presidente marca uma reunião do ministério. Assina e anuncia a cassação de vários políticos, entre eles a do governador de São Paulo.
“O governador paulista se escora na mídia, nos industriais e nos partidos nanicos enfileirados”. Heródoto Barbeiro analisando atitudes de uma certa autoridade
A cassação é apoiada no Ato Institucional 2, baixado com o objetivo de blindar o regime e estabelece eleições indiretas para presidente e dá carta branca para que Castelo Branco casse os direitos políticos de qualquer cidadão. Faltam oito meses para que Adhemar de Barros complete o mandato. Foi um dos articuladores do golpe civil-militar que depôs o presidente eleito João Goulart. Mal sabia que seria vítima de um regime discricionário que ajudou a enredar. Perde o palácio, mas não a fama. Ainda é lembrado, mesmo fora da política, como o “rouba, mas faz”.